quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"ENTRE O OLHO E A TELA"

Flávio Tavares em frente ao seu mural, Reinado do Sol

Como é a vida de um artista? É um matiz de cada parte de nossas vidas. Não se poderá, jamais, comparar os pensamentos, as criações, idéias, os sentimentos, sofrimentos e as alegrias de um artista com de outras pessoas, embora todos sejamos iguais. O modo de ver o mundo de Flávio Roberto Tavares de Melo é isso, e vai muito além destas linhas, aqui escritas. Morando em um lugar extremamente tranqüilo do Altiplano, ele abriu as portas de sua casa, do seu ateliê e de sua alma de pintor. Com muita simplicidade e um sorriso reconfortante, mostrou-nos o ambiente de suas criações, suas obras, que estão espalhadas por todos os lugares da enorme casa e, lógico no próprio ateliê. Parecia meu primeiro contato com as artes. Ele mostrou o início de uma tela esboçada, no cavalete e, em seguida, vários desenhos, em nanquim, no papel. Segundo ele, o desenho ainda supera a pintura e, ele tem completa razão no que diz. Suas raízes, voltadas para a cultura, estão no sangue que percorre por toda família. Por aqui, você confere o olhar de Flávio sobre um mundo que rejeita a guerra, a sua trajetória pelos EUA, Guiana Francesa, Europa, Jerusalém e Brasil, incluindo o próprio universo deste grande pintor, renomado em todos os lugares, onde sua arte alcança. Saberá, também, um pouco mais de sua personalidade, que, às vezes, tem um pouco de Macunaíma, um tanto de Picasso e Goya. E descubra no final desta entrevista, como será o retrato que você pode criar do homem e pintor, que carrega, em seu ínterim, uma pincelada de poetas, ditadura, música, paraíso, inferno, purgatório, enfim, carrega a vida e o desejo de vivê-la incessantemente.
Como foi sua infância e seu primeiro contato com as artes plásticas? Foi uma infância normal, meu pai era médico, veio de uma família de fotógrafos, meu avô paterno era fotógrafo e aquarelista. Meu pai desenhava muito bem. Ilustrou, durante muitos anos, jornais daqui, como o Correio das Artes e era muito bom em bico de pena. Então era muito natural que de seis irmãos, quatro desenhassem muito bem. Foi algo normal, de ter talento para desenho e o ambiente favoreceu.


Você freqüentou, aos 18 anos, o curso de Raul Córdula, e absorveu os ensinamentos do artista Hermano José. O que lhe despertou o interesse nesse artista e quais influências você trouxe para sua obra?

Na verdade, o curso foi em 63, eu tinha 13 anos e foi muito importante, porque o Raul Córdula e outros, ensinavam as técnicas e não interferiam no princípio estético. Então você poderia trabalhar no que quisesse, era realmente uma liberdade e também uma não indução, da parte deles, respeitando a criação dos outros. Isso foi importante, porque acho que a técnica, hoje em dia, falta muito aqui, em João Pessoa, que também sofre com a falta das escolas e cursos de arte. Foi uma época muito boa, porque tinha muitos pintores de fora, como Lazzarin, João Câmara, que já dava aulas de pintura e foi um período fértil, onde apareceu Miguel dos Santos, Régis Cavalcanti, Roberto Lúcio, muita gente boa. Breno Matos, Manoel Jairo Lisboa. E Hermano, como morava no Rio, favorecia muito com o conhecimento dele, de técnica também e opiniões críticas muito fortes. Hermano foi o primeiro a levar os artistas da Paraíba para expor no Rio. Fiz a exposição em 67/68, através de Hermano José.


Como se deu sua projeção como pintor, no âmbito nacional?

Foi o prêmio do Salão de Arte Global, em 72, com a viagem a Paris. Como a divulgação de arte naquela época, aqui em João Pessoa, ficava muito isolada entre João Pessoa e o estado da Paraíba, esse prêmio me deu notoriedade nacional, e com isso abriu espaço para expor em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e foi importante, porque acredito que foi como disparou o princípio do profissionalismo, na Cidade.


Você esteve uma temporada nos EUA e Caiena – Guiana Francesa. Quais experiências você leva consigo desta temporada no exterior, em termos de vida e cultura?

Na Universidade de Yale eu fiz um workshop. Tanto participei mostrando outros artistas daqui, da Paraíba, como levei muita história da cultura popular, desde o cordel e tinha acabado de lançar o livro de humor com Ziraldo, que se intitula “O pavão sem mistério”. Isso tudo deu uma abertura muito grande para ter o próprio conhecimento do que se chama uma cultura latina e uma cultura enraizada, na sua terra. Passei a ver, também, muito a criatividade popular e carro chefe dessa história é, ainda hoje, o gravador, Gilvan Samiko. Esse fabulário nordestino começou a aflorar muito e de lá dos EUA para cá, as oficinas favoreciam muito o campo técnico e a valorização do desenho era muito grande, coisa que é muito pouco valorizada aqui, porque acham que papel é coisa efêmera, além de aprimorar o desenho em si, com modelo. Eu não desenho por modelo, desenho de memória. Mas lá, as aulas com modelo faziam você entender a volumetria, a luz, os princípios básicos da arte e a figuração. E, em Caiena foi ver o mundo pela primeira vez, você ter a consciência do que é o mundo colonizado, porque ainda estava, não sei se continua, mas estava sob domínio francês. Era uma região muito pobre, com muitos índios, a região dos Igapós e tinha um domínio de uma cultura esmagadora, em cima dos nativos, porque ali ainda é uma região amazônica. Isso me favoreceu o campo político, de ter uma compreensão do colonizado e do colonizador, então isso nos leva a ter no campo de contracultura, o entendimento melhor, do que é um povo esmagado.


Suas obras conquistaram a Europa e Israel. Como se deu essa trajetória, até Jerusalém?

Em Jerusalém foi através de Sônia Weiner, irmã do Samuel Weiner, um grande jornalista brasileiro, quando ela viu uma exposição minha, no Rio de Janeiro e aqui, em João Pessoa, através de Fernando Pereira, Professor de Arte e Comunicação. Ele fez a ponte, porque já havia morado cinco anos, em Jerusalém. A exposição foi feita em Tel Aviv, através da Embaixada do Brasil, em Jerusalém, na Galeria Moriah, e também no Kibutz, em Ashkelon. Foi uma visão muito bonita, pois fiz uma pauta entre o sertão da gente com o mundo árabe. E me influenciou muito a questão da cor, porque a areia do deserto tem um tom dourado e comecei a observar muito a sombra, luz, claridade, escuridão, para ter uma concepção do que se chama um mundo ecumênico. Todas as regiões tinham uma confluência e não havia atrito. Hoje já tem muito. Já tinha acontecido a Guerra dos 100 dias, mas hoje existe uma animosidade muito grande, na época que eu fui não tinha.


Qual a sensação de já possuir um número expressivo de colecionadores?

É que você está fazendo um trabalho, que sai do seu ateliê, e tem o intuito de atingir outros elos, vamos dizer assim, outras casas, outros lugares e divulgar a nossa cultura, e isso é muito gratificante. Gratificação maior seria se essas obras, não só as minhas, mas de outros artistas, estivessem na formação de um museu, então haveria uma penetração na compreensão da cultura do povo. Eu vejo isso com o mural que eu fiz para a Estação Ciência, O reinado do sol, onde a penetração popular é muito grande, então se vê uma verdadeira aceitação e é uma boa aceitação, pela simpatia do povo e isso leva à necessidade imediata da criação de um museu.
Você não parou apenas na pintura. Quais outras técnicas você já desenvolveu? Eu gosto muito da litogravura, fiz um curso na Universidade do Novo México, de três meses, no Instituto Tamarindo e isso foi muito bom, porque você vê que a litogravura, como outras técnicas, é muito bem aceita lá fora, desde a serigrafia, à xilogravura. E esse período foi ótimo, porque o princípio da oficina é muito agradável, pois estamos sempre aprendendo.


Seus painéis e murais são bastante afamados. Um deles é “Reinado do Sol” e é extremamente impactante, devido ao tamanho e influência da criação da cidade de João Pessoa. Pode nos falar um pouco mais desta obra?

Quando foi dado o tema através do prefeito – como um cantador de viola dá o mote – que queria alguma coisa com alusão à cidade, eu pensei muito em Franz Post, gravador da época de Maurício de Nassau, com aquela luminosidade dourada, os rios, as paisagens e o clima cromático do quadro. Então, parte daí numa visão nova, do que seria a terra da gente, porque ali também era uma visão européia. Muitas coisas eram desenhadas aqui e pintadas lá. Então havia o confronto da luz dos trópicos, com a da Europa. Então fiz uma carnavalização, não no tema do carnaval, mas na temática de vários momentos de uma cultura sendo esboçada em um único painel. É uma alegoria, não é um quadro que possui uma história linear da colônia, mas segue o imaginário popular. Imaginamos ou imaginávamos chegando, aqui, portugueses, espanhóis, franceses, e uma confusão enorme. Na visão de um índio, ver chegar aqui um navio enorme, da época, é um absurdo. Hoje se chegar um disco voador, a gente nem se espanta tanto, porque o imaginário já estourou todas as possibilidades. Assiste-se no cinema Matrix, O senhor dos anéis e se vê uma fantasia. É exuberante! Quis mostrar isso, o impacto da colônia, com a galera, o galeão no meio, esmagando a cultura primitiva, do lado direito a formação da cidade com um pouco de alegoria, alguns escritores e o navio trazendo as bandeiras. Uma espécie de folclore, de uma nau mais próxima, também, a de Noé, do dilúvio, porque os europeus não levavam só matéria prima, mas também animais para a Europa, então lembrei de Noé. As formações tribais estão presentes na catequese. No quadro tive também a opção, porque como não havia muito espaço para ser visto, em distância, eu apelei para figuras menores e outras que chamei de ilhas, que as crianças gostam de olhar porque vão descobrindo os instantes de um, de outro e não é obrigado se ver o quadro na totalidade. Você o vê por partes e vai criando histórias dentro dele, sendo livre. Foi muito gratificante, porque saltei da fantasia para a realidade, e não da realidade para a fantasia.

Você fez uma série de pinturas, chamada “A Divina Comédia”, em parceria com Sérgio Lucena. Como se deu a idealização do trabalho, a parceria, além do desafio da interpretação da obra de Dante Alighieri?

Em 84 eu fiz uma obra em Bordeaux, sobre a Divina Comédia, baseada de longe em Dante, na questão do Inferno, Purgatório e Paraíso, mas não seguindo uma linha do próprio poema de Dante, porém levando a Divina Comédia Brasileira, como se adaptasse a essa comédia da época. O Brasil já tinha saído da ditadura e havia uma espécie de glamour, que estamos vivendo hoje, como se fosse a época de Hollywood dos anos 50, que é festa e mais festa, que não acho ruim e acredito que, quanto mais alegria melhor. Mas era uma sátira ao princípio de uma sociedade que estava saindo de um clima de Antônio Conselheiro, passando para um outro patamar que era a globalização. Isso me deu como suporte, a visão de Dante. Quando Sérgio apareceu, já era aluno meu, e tive uma idéia de fazer da Divina Comédia, a Pedra do Reino. Aí foi interessante, porque eu queria misturar as figuras burlescas dele, que na época eram muito caricaturais, além do desenho ser muito bom, até hoje, então deu uma fusão interessante no imaginário de dois pintores, formando um terceiro inexistente, pois na hora que juntou a minha arte com a dele, apareceu uma história que não estava prevista.



Como você definiria a inspiração?

A inspiração teria que ter um princípio de acúmulo de vida, porque não acredito na inspiração como a história da lâmpada de Aladin. Ela vem através de um mundo de trabalho, de um mundo de acervos da ótica, no caso da pintura e no caso da música, a audição. Daí o talento, a habilidade natural. Às vezes comparo muito a habilidade com qualquer outra profissão. O talento é muito feito através do suor e as idéias vão se agrupando como história em quadrinhos, ou como filmes na cabeça de determinados artistas, ou seja, o campo imaginário deles é levado mesmo por estas sementes constantes do seu trabalho. Então, há instantes em que você tem idéias brilhantes, aparecendo como se fosse inspiração vinda de fora. Mas, não sei afirmar se sem o acervo do trabalho, da leitura, do entendimento, se seria possível. Então a inspiração é um talento também. Eu diria um pé na terra e outro no céu.


Algum ritual quando vai pintar?

Não. Eu, inclusive, gostaria muito de me inspirar em alguns artistas muito disciplinados. Eu gosto muito de viver, de curtir a vida e no meio dessa vida, eu pinto, mas tem pintor ou artista que vive para pintar, para trabalhar e eu acho admirável. Aqui na sala tem uma rede que, vez em quando, é caçada, porque em certos momentos, prefiro ficar na rede, a pintar. É um pouco do Macunaíma (risos).


Os seus estudos de sociologia tiveram alguma importância, quando criou a série de desenhos “Anos de Chumbo”, criticando a ditadura militar? E porque ela foi elaborada em desenhos e não pinturas?

Tem sim. Quando comecei a estudar sociologia, já tinha saído do Movimento Estudantil, que era o movimento contra a ditadura e todo mundo estava envolvido. Aquilo, também, era uma carnavalização. Saíamos para passeata também para namorar. Ninguém era doido ao ponto de achar que aquilo não tivesse uma brincadeira no meio da tragédia (risos). A sociologia, acredito até hoje, que possibilitou uma visão melhor da política, a prova disso é que faço charges políticas, até hoje. Eu fiz uma charge, contra os sistemas ditatoriais: “O pavão sem mistério” e tem um capítulo da Tesoura, que era sobre a censura. Não precisa ser um sociólogo, evidentemente, para ter uma visão maior. Fiz em desenho, porque acho o domínio do preto e branco, ainda muito superior. Você observa isso, de forma clara, na obra “Guernica” de Picasso. E ele disse isso de forma muito veemente: o quadro foi feito em preto e branco para mostrar a ausência de cores dentro da tragédia. É evidente que você mostra, também, através das cores o princípio que se chama de tragédia humana. Goya é o exemplo maior na obra “Sabá das Bruxas” e também nas gravuras; nas gravuras em metal, que tem uma força muito grande, no que se chama regime de força.


Críticos como, Jacob Klintowitz, elogiam a sua evolução na arte. A que você dedica esta evolução?

O desenhista, o pintor tem sempre a frente dele desafios, como se o mundo fosse inesgotável. Então o que se chama evolução na minha concepção é você fazer um trabalho, onde sua mente queira atingir. No momento em que você atinge, tem o sentimento de que evoluiu tecnicamente. Mas, às vezes, até isso leva dúvida, entretanto se você tem um parâmetro crítico bom, sabe que não está dentro de um princípio estagnado. Por isso que é preciso, também, a crítica, porque lhe auxilia no processo. Você, com o olho crítico, vê se está evoluindo, ou não. Pois, em certos momentos, também existem as quedas. Alguns períodos são confusos na própria vida, que você não sente esse princípio que se chama avanço, e fica parado. Isso é como qualquer outra profissão.


Qual a importância das gerações dos anos 60, 70 e 80 em suas obras?

A importância vem da formação de uma latinidade, desse nordeste, através de João Câmara, Vicente do Rego Monteiro, a Escola Pernambucana de Artes, Samico e aqui, na Paraíba, Raul, Ivan Freitas e o entendimento dessa geração de grandes gravadores, como José Altino, Alexandre Filho, que é da minha geração. A concepção dos anos 60, junto à música, o teatro muito forte de Guarnieri, Paulo Pontes, com Gota D’água, Chico Buarque, Caetano com o Movimento Tropicalista. Não admito o artista viver isolado, pensando que a evolução dele foi só daquele pequeno momento, em que trabalha. O artista plástico tem que possuir uma compreensão do mundo. Então, a música foi bastante importante nesse entendimento da geração dos anos 60. A música de protesto, onde as raízes saíram de um samba muito bom, como Cartola, Pixinguinha, passando por Vinícius, Tom Jobim, e a geração brilhante de Chico Buarque. E na pintura, a contribuição de Portinari, Di Cavalcanti, entre outros.


Ainda com muita fama e prestígio, as pessoas elogiam a sua simplicidade e lhe consideram uma personalidade acessível. De onde vêm essas qualidades?

Eu acho que tudo é uma forma de entendimento da vida, porque se não tiver essa humanidade naturalmente, acho que a pessoa está fora das conotações do que se chama inteligência, prazer, o fazer, e a amizade. Tudo isso é uma coisa natural. Você ter esse entendimento do outro, vai muito da formação tanto familiar, quanto religiosa. Não é obrigado tê-la para se ter esse entendimento. Eu acho que a humanidade já traz isso intrinsecamente, porque é preciso o exercício de ser humano. É muito triste ainda vermos guerras e domínio, atualmente O mundo está mudando muito, pode ver um sintoma maior, que foi a eleição americana com Barack Obama, em um país intolerante com raça. Tem que se ter uma amizade. O mundo não tolera mais guerra.


A arte é mercadoria?

Lamentavelmente o nome mercadoria não se aplica à arte, porque é um nome que me parece industrial, como a mercadoria tirada em série. É lamentável que, às vezes, as pessoas pensem que arte fosse só mercadoria, mas dentro do mercado, como temos o mercado de arte, ela se torna mercadoria. Mas se torna mercadoria, onde a crítica deveria exatamente executar essa estratificarão do não repetitivo. Então, a arte tem um mercado e se torna um valor. Ela se torna um bem de consumo, às vezes, e não tem estética. Então pode ser classificada como mercadoria, mas não no sentido do múltiplo, do industrial e do vulgar. Lamentavelmente, porque a palavra mercadoria não é bonita. Mas, a arte é mercadoria, e no instante em que o teto de uma igreja está pintado, ela não é mercadoria, mas sim o sagrado, porém na hora que a pintura sai do teto e deixa de ser o sagrado, passa a ser um bem de consumo.


Se pudesse recomeçar tudo, desde criança, você mudaria algo, ou faria tudo de novo?
Temos tanta falha na vida. O igual, em algumas horas, é antidialético. Você não pensa no igual. E há uma coisa muito bonita na vida, onde se acredita que vai viver para sempre. Então, tem sempre tempo para você retornar ao próprio caminho, ou aos caminhos. Volto muito para minha infância e me sinto muito retroativo, mas me vejo sempre desenhando, pintando e o prazer de estar fazendo arte. Acredito que se pudesse recomeçar, faria a mesma coisa.


Flávio Tavares por Flávio Tavares?

A minha vida é entre o olho e a tela. Eu me vejo muito espelhado no momento em que estou pintando. E como lá em casa todos têm o retrato de família muito parecidos com meu pai, eu acho que ele, como médico, sanitarista e dermatologista, espelha melhor uma índole, vamos dizer, romântica, do que eu próprio teria capacidade de me espelhar. Não tenho um retrato muito formado. Às vezes é até interessante ver o seu retrato feito por outra pessoa. Pois para a própria pessoa, ela é turva. Quanto mais distante, a vista foca melhor. Eu, em certas horas, tenho um retrato mais distante, do passado, do que do presente. O presente é uma confusão grande, é muito difícil.


Ivna Alba
Jornalista
Entrevista do mês de novembro de 2008.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Dizem a boca pequena...


Pela manhã cedo, ele acorda. Não sabe muito bem o que pensar da vida, mas pensa assim mesmo. Aquele café quente e amargo rasga a goela, não escova os dentes, nem teria porquê. "Higiene é uma coisa que colocaram na cabeça das pessoas para perderem tempo, é só um cafezinho". Língua amarela. Hálito puro café.
Semáforos vermelhos embebedam a rua de um trânsito truculento e infernal. "Dante precisava ver isso".
- Dizem por aí que pouco se respira, falam por aí que a minha paciência chegou nos calcanhares e não se desenvolveu. Mas, o que eu posso fazer? Esta vida é mesmo um monte de escárnio e se riem todos da desgraça dela.
Silêncio do companheiro de banco do metrô. "Mais um maluco, em plena segunda-feira".
- Pois é, todos que conheço dizem que eu sou pavio curto, mas não acredito nisso, não! Tenho o Jó dentro da minha personalidade, sabe? Até respirei e contei até dez, quando me demitiram há 6 meses atrás. E isso foi sem causa justa alguma, acredita? A vida hoje é assim... Sem causa justa e em meio a essa imundície completa.
Abandono. Agora se encontrava sozinho no banco do metrô. Próxima parada? Aquela onde desemboca o joio e o trigo. A Sé.

Ivna Alba

sábado, 29 de novembro de 2008

Como bolha...


Eu lembrei daquele dia morno, morninho. Na verdade, era daquela manhã, em que todos íamos à praia. Sempre estava no meio, frente ao rádio, onde Elis Regina cantava “Romaria” e eu usava um pequeno maiô amarelo, com pequenos desenhos verdes. Tão alva e inocente, como a primeira bolha de sabão que se sopra pelo canudo. Plim! E eis que a bolha cresceu com o ar soprado no canudo e me pergunto, quando ela vai estourar. Por enquanto, ela ainda está vagando, voando por aí, olhando o mundo, extremamente transparente, meio triste, alegre e doente. Em certos momentos permanece limpa e deixa que o mundo a veja por dentro, de forma inteira e completa. Eis-me aqui, tão bolha e tão somente humana, prestes a dar mais um vôo e alucinadamente esperando explodir.
Talvez, seja a próxima rajada de vento...


Ivna Alba
Ouvir ao ler: Pas si simple - Amélie Poulin

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Viva la vida!

A sexta termina assim, às 19:03, na redação.
Desligarei em poucos instantes o meu pc, pegarei minha bolsa, acenderei o cigarro, entornarei o último gole de café gelado, sentirei o gosto forte da bebida descendo por toda minha garganta, esôfago, até chegar aos percalços dos ácidos estomacais, mas o que importa mesmo, é que vivamos a vida!
Viva a vida, mesmo com o coração esmagado e repartido.
No momento, junto os cacos dele para colar em casa.

Ivna Alba

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Opressão


A foto que se encontra aqui é uma das imagens do filme de Selton Melo (direção e co-roteiro). O título é simples e até clichê, quase um paradoxo para esta cena, que digo em uma só palavra como definição: opressão!

As interpretações podem ser várias, mas para meu ponto de vista cabe uma, que certamente, pode não ser a sua, e desejo que seja diversa, para que consigamos diversificar as idéias e crescermos de alguma forma.



Dois pontos interessantes:



- Concreto e asfalto: dois materiais que definem bem o progresso, desenvolvimento, urbanismo, caos, metrópoles, a sociedade em que nos encontramos. e por aí poderia discorrer outra porção de conceituações.


- PARE: você corre (ou não) durante os 365 dias do ano, faz tudo de certo ou errado, contudo ao chegar em dezembro, por mais que os lojistas procurem os escravos para o emprego temporário, o mundo aumente a aceleração e chegue-se aos 500km/h, dentro de cada um existe a palavra, um tanto encoberta pela foto, PARE. Então, recupere o fôlego, dê uma outra chance, ou resolva não se dar nenhuma, ou simplesmente para alguns a ordem é decretada: PARE!



Prosseguindo a minha análise, prefiro ver a pessoa da foto não bêbada, não morta, nem ferida, muito menos doente, mas em posição fetal.

Talvez, ela já tivesse visto o PARE, obedecido a ordem, se desfazendo da posição fetal, esticasse lentamente os membros e fosse ao encontro do recomeço.

Entretanto, o recomeço não deixa de ter uma parcela opressora, porque se tem o medo da derrota, e ainda pode-se ter uma opressão humana, diante do que construímos de concreto e asfaltos.

Quão ínfimo e insignificante pode-se tornar o homem perante uma natureza pura e idealizada.


Ivna Alba

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Branco

E era chegada a hora da partida. Mas, que partida é essa que avassala seu coração? Que despedida é essa que se tem, onde não se pode pensar em mais nada, a não ser na falta que se sentirá das pessoas.

Olhar para frente não é uma tarefa fácil, olhar o mundo de frente muito menos, embora se faça um esforço para se tomar a realidade nas mãos, acariciá-la e tomar-se inteiramente de um carinho pela fantasia. Obra do labirinto da vida, nos colocar em uma posição difícil, rodeando as lacunas da alma, em busca de alguma paz, algum amor, alguma sobrevida dentro de nossos espíritos.

“Ontem à noite, eu chorei”. Ela me disse sem pestanejar, sem palpitar na língua, sem salivas a escorrer pelos cantos das papilas, sem ranger de dentes, serenamente esculpida em ares de eterna sincronia com o branco das paredes. Quiçá um tanto mórbida, mas enfim tranquila. “Eu ouvi”. Respondi-lhe depois de dez minutos em completo e total silêncio. Que mais eu poderia fazer? Abraçar-lhe depois de não lhe conceder o mesmo carinho, mais?
“Chove”. Interrompia a minha mente vazia, suas palavras. Como se eu mesmo quisesse que ela se intrometesse em minhas divagações sobre o fim incessante daquela tortura inútil e imbecil.
Lembro-me do branco.
Lembro-me das últimas letras.
Lembro-me das não lembranças, as cortinas voando pela sala toda branca, bolinando o sofá branco, varrendo a penugem do tapete branco, dos livros intocados na estante branca, das paredes brancas, do teto abraçando o lustre branco em minha direção e lembro-me do vento.
Depois tudo se tornou um eco de recordações, as quais eu já não sabia.
Na mesa os pratos do café, tudo em branco e acrílico, no centro nada mais que uma geléia rubi.
“Senta-te”!
Mergulhei, então, no corpo dela, sem saber ao certo onde eu deveria chegar, mas desdobrei-lhe cada parte das entranhas, cada visgo de secreção, cada pêlo, cada dobra de derme, cada estalar de pestanas, cada lágrima fugidia, cada batida intensa do coração, cada subir e descer dos pulmões e trabalhei profundamente nos seus alvéolos, querendo sê-los.
“Bruxa! Bruxa! Bruxa! Bruxa! Bruxa! Bruxa! Bruxa!” Repeti milhões de vezes, para que eu soubesse de quem se tratava, por fim choraminguei em cima da geléia rubi, balbuciando um “eu te amo” miseravelmente apaixonado, descascado em trezentas toneladas de dores no peito.
Acordei com a mão dela em meus ombros, sacudindo meu corpo, pedindo para que eu parasse de chorar em vão.
Ela estava ali.

Ivna Alba

Um pouco de enogastronomia para o Natal!

Estamos chegando no final do ano e, mais uma vez, fica aquela terrível dúvida: - O que eu posso dar, para ela/ele?
Se a minha condição financeira fosse realmente boa, eu sempre daria vinhos a todos que desejo presentear, entretanto, penso que um bom vinho deve ser acompanhado de outro "regalo". E por que não? Uma difícil escolha seria combinar um chocolate maravilhoso com um vinho de tal sabor.
Eis aqui, algumas dicas que encontrei em um site:



Dicas de harmonização - vinho e chocolate


Vinho Banyuls – vinho doce fortificado elaborado na região de Roussillon, na França é o vinho preferido dos enólogos, enófilos e mestres confeiteiros para uma perfeita harmonização com o chocolate.

Vinho do Porto – vinho natural e fortificado, produzido exclusivamente a partir de uvas provenientes da região demarcada do Douro em Portugal, esse vinho oferece uma gama enorme de harmonizações com chocolate.


Vinho Jerez – vinho fortificado de características bastante peculiares, é produzido na região de Andaluzia, na Espanha, é bom para acompanhar o chocolate, pois proporciona uma lavagem na boca realçando o sabor doce do chocolate.

Casando os sabores, e dependendo para quem for para o presente, sua noite natalina pode ser muito mais proveitosa!

Ivna Alba

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Oh, vida dura!

E eu nem sei porque comecei a utilizar esse blogger como um espaço para comentar as coisas imbecis que aconteceram nos meus últimos dias, mas tudo bem.
As últimas semanas que se passaram, do dia 17 de outubro, até ontem, 11 de novembro, eu posso dizer: não morro nunca mais!
Incrivelmente, tudo começou a eclodir e uma viagem que mudaria toda a minha vida para melhor, realmente mudou, mas para pior. Pior?!? Não sei bem, acho que entre mortos e feridos salvaram-se todos. Contudo, vejam bem: você marca uma passagem, está prestes a (aliás, você pensa que está prestes) terminar o seu curso, já avisa que só fica até tal dia, no emprego e... BUM! A bomba explode!
De uma hora para outra eu ganho uma (des)orientadora que me abandona, com uma desculpa que até o coelhinho da páscoa desacredita, a coordenação do curso acha de mudar as regras: - Agora você só poderá se formar em março (final do período)! E no emprego... he,he,he... Nesses últimos instantes o capeta riu de mim. Pairou aquela dúvida: será que eu continuaria?
Realmente, até a semana retrasada, eu ficara desmontada, apática e sem forças para nada, porém tudo deu certo!
E lá vamos nós, para o tema do tópico.
Oh, vida dura!
Vida dura? Sim, vida extremamente dura! Imagine o que você fazer um TCC e ter que trabalhar em período integral, chegar em casa o bagaço, ter que pegar Aristóteles com sua "harmonia do todo", depois Platão e "o retorno da alma" e por aí se vão os dois. Certo, eu faço isso, todo santo dia e me questiono, por que meu pai não teve a sorte de acertar os 6 míseros numerozinhos da mega-sena, ou por que minha mãe não foi uma super inventora de um aparelho ultra-mega-powerpuff moderno de processar alimentos e ficou milionária?
A resposta foi imediata: POR QUE A VIDA É DURA, SUA ABIGOBAL!
Certo, ontem assistindo, pela primeira vez, "O diabo veste Prada", teve uma cena que gostei muito, ou pelo menos me fez ver a vida com olhos diferentes, e novamente me questionei: (vivo me questionando sim!)
Porque nos fazemos de vítima cada vez que alguém critica alguma coisa que não façamos corretamente? Sim, nós podemos fazer tudo direito, temos essa capacidade, mas quando erramos, os superiores criticam e são muito rígidos, aí soltamos as lamúrias:
"Porque ela/ele não me elogia. Poxa eu tento fazer tudo certo e ela/ele não vê. Exato! Tenta-se, tenta-se, tenta-se e não passa dessa tentativa eterna!
Ixi, e quantas vezes eu chorei porque um chefe me disse o diabo porque eu errei em algo? Conversa idiota, vocês devem pensar. Mas, é verdade! Fazer, encarar a crueldade e a dureza da vida, talvez seja a saída para o vale de lágrimas que fazemos da vida.
E daí, que ela/ele não te ligou? E daí que o teu orientador te abandonou? E daí que você levou um puta esporro do chefe? Isso acontece e sempre vai acontecer.
Adoro os ditados populares: "Errar é humano, persistir no erro é burrice".
Caros leitores, perdoem-me as tolices, desculpem-me também o tópico torpe, mas era o que eu tinha hoje.
Provavelmente, os próximos tópicos terão coisas mais interessantes para se ler.


Dica do dia:

- Para quem gosta de tango, acessem o disco: Adios Nonino, na www.uol.com.br/radio

Ivna Alba

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Bem solto...

Vontade de ir embora...
Desejo de olhar o mundo lá fora...
Anseio de esquecer a alegria que tive aqui dentro...
Desejo de esquecer que um dia, eu acreditei que dois poderiam ser apenas um.
Oh! Derradeira primavera...

Ivna Alba

domingo, 9 de novembro de 2008

Incognoscíveis

Sim, ultimamente este blogger tem servido mais como uma forma de libertar as palavras que me vêm à mente, mas não em forma de textos novinhos em letras.
Mesmo com o pouco de estrada percorrida, que tenho, observo alguns modos de comportamento humano e me questiono: por quê?
Bem, o homem é uma criatura, que com o passar do tempo, se transforma, cada vez mais, em concha. O silêncio, parece ser a melhor maneira, deste homem se pronunciar, perante algumas situações, como se a forma mais natural de alguém descobrir o que ele pensa, seja através da mudez, da ausência de uma silhueta, que seja, de som, atitudes, ou o que venha ele a fazer.
Sim, é mister que eu compreenda, agora, que eu seja vidente, também, para descobrir, enfim o que se passa na cabeça de todas as pessoas deste mundo, com as quais me relaciono.
E, assim, nós complicamos a vida! Deixamos de aproveitar inúmeras ocasiões de felicidade, ficamos presos, encarceramos nosso desejos, sentidos, sorrisos, tristezas, encerramos no nosso âmago uma porção de emoções que poderiam ser liberadas e eclodir em inúmeros momentos sublimes de um instante ímpar e alegre.
E destarte se vão os anos... se vão os sorrisos... se vai a vida...
Isso é viver?

Ivna Alba

domingo, 2 de novembro de 2008

Ao som do Tom, declaro...

Ele é fantástico, completo, maravilhoso, em todas as partes e em qualquer coisa que faça. Adentrou em minh'alma com força de gigante, resplandeceu terno e puro, tanto quanto constante, em minha vida, de forma que me deixei envolver por inteiro, nele e também em mim.
Amor não avisa quando vai sentar na sua poltrona mais confortável. O amor não vai lhe deixar inconstante, diante da aurora.
Ele vai se aconchegar, do modo mais quieto e intenso. Deixei-me cair, por fim, em tuas mãos, tão apaixonada como nunca, tão irradiante, esperançosa e deslumbrada com o poder que tens de me fazer, nem que seja por uma noite, a mulher mais feliz do mundo.
E se estou sendo tão ligeira em expressar isso, não tenhas medo, meu amor! Apenas escute-me por estas letras tão sorrateiras, que escorregam da ponta de minha caneta, neste papel tão simples, mas carregado de algo tão denso e completo.
Dou-me a ti! Dedico-me por inteiro, sem medos, sem restrições e completamente certa do que diz meu âmago: Que, enfim, amo-te!

Ivna Alba

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Como não acreditar tanto...

Sabe aqueles dias que você acredita que tudo vai dar errado? Então, ele realmente vai dar errado, a menos que aquele cara que você está começando a gostar ligue para você. O que certamente, não acontecerá hoje, para mim. Ah! E pode estar certa também, que aquela sua amiga, que você adorava e botava uma fé gigante, que nunca iria lhe apunhalar pelas costas, vai lhe apunhalar, porque certos seres humanos não são confiáveis.
Uma salva de palmas aos sacanas do mundo, uma salva de palmas a todos aqueles que fizeram você se sentir mal hoje, uma salva de palmas a você, grande amiga, que disse o que eu não disse, que desvirtuou as minhas palavras, que não compreendeu o significado da frase: FICA SÓ ENTRE NÓS, PORQUE NÃO QUERO MAIS PROBLEMAS! E espero que bem mais adiante você me diga quem está verdadeiramente do seu lado, se são os insetos, ou são as pessoas que têm sangue nas veias!

Ivna Alba

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Pequeno tratado sobre a musculação cerebral - Diário de um TCC

1º. Capítulo


Para os que não leram o Prefácio deste Pequeno Tratado, por favor, adiantam-se ao texto que se encontra abaixo deste, pois ali se encontram algumas explicações.

Vou tentar colocar, aqui, alguns pontos que facilitam a vida de qualquer cidadão que esteja iniciando o seu TCC.

1º. Se você for calouro/fera veja, durante todo o decorrer do curso, quais as disciplinas de seu maior interesse e os professores que podem lhe auxiliar nesses assuntos.

2º. Se você está na metade do curso, lhe digo o mesmo, pois isso evitará dores de cabeça no futuro.

3º. Dentre seus professores, recorra aos mais acessíveis para discutir idéias e manter debates que aflorem sua visão.

4º. Certo! Chegou no seu período de pré-concluinte? Faço uma pequena observação: se você tem dinheiro no caixa e um bom projeto nas mãos, que nenhuma banca ponha defeito, parta para aquela idéia ousada que você tem como TCC, mas se houve um NÃO para alguma das hipóteses acima, rume em direção ao tradicional.

5º. Conselho de um grande professor meu: "Ivna, não complique! Faça um trabalho simples e bem feito, para terminar logo o curso." Eu o escutei. Até agora não me arrependi.

6º. Escolha um tema que se identifique com você e discuta, não só com seu/sua orientador/orientadora sobre a bibliografia que utilizará, mas também com outros professores que possuam conhecimento sobre o tema do seu trabalho.

7º. Escolha um orientador/orientadora e não um DESorientador/DESorientadora.

8º. Não tenha vergonha e peça mesmo o caminho das pedras.

9º. Só dialogue com amigos que você saiba que podem lhe dar alguma luz no TCC, caso contrário será apenas um problema a mais. Já que muitos adoram misturar alhos com bugalhos e terminam por aturdir, ainda mais, seus pensamentos e idéias.

10º. Deu pane no ventilador? Então, relaxe! Leia um gibi da Turma da Mônica ou do Zé Carioca. Minha preferência é pelo último. Ele é tão brasileiro que dá gosto!


*Dicas voltadas para estudantes de Comunicação Social - Jornalismo.
** Ivna Alba é estudante do curso de Jornalismo, na Universidade Federal da Paraíba - UFPB.
*** O TCC da autora será um ensaio cujo tema define-se em: "Hoje é Dia de Maria e a dicotomia entre o bem e o mal".

Ivna Alba

Pequeno tratado sobre a musculação cerebral - Diário de um TCC

Prefácio do Pequeno Tratado


Há quem me diga que só se exercitam os músculos corporais. Estaríamos todos, redondamente, enganados ao pensar dessa forma. Mas, quem sou eu para falar com extrema certeza sobre tal assunto, se a palavra esportista não passa no meu vocabulário faz anos; muito menos me considero uma pessoa tão bem preparada em termos intelectuais?
Contudo, uma verdade seja dita: ao se iniciar seus estudos para uma monografia, ou um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), você sentirá seu cérebro se abrir, desenferrujar, aumentar, pulsar, igualmente a quando se faz uma atividade física. Sobretudo, se o seu orientador ou orientadora disserem: "Você necessitará estudar filosofia, também, para argumentar no seu ensaio, monografia, ou o que venha a ser sua escolha."
Nessa hora, você pensará: "Não tem problema, será muito divertido!". Aí está o seu ledo engano. Lógico! No início do curso de Jornalismo eu estudei filosofia, mas não esta que tenho o prazer de estudar agora, para o meu TCC, que escolhi escrever um ensaio.
Senhores e Senhoras, leiam Nietzsche! Não tenho pretensões de ser especialista em tão intelectual, nobre e espetacular gênio e filósofo, porém, apenas ter os primeiros contatos com obras do grande, como "Para além do Bem e Mal", "Para a Genealogia da Moral" ou "O Anticristo", já me fazem sentir os primeiros sintomas da musculação cerebral: ver bolinhas e achar que a burrice está em mim. Entretanto, a própria linguagem filosófica, os termos de que Nietzsche se utiliza em sua obra é deveras ímpar. Quiçá, esta seja a primeira quebra de muitas que ele faz em seus escritos.
Verdadeiramente, meus caros, este é um primeiro capítulo, tratado ou alguma outra denominação que desejam dar, da árdua tarefa de um/a universitário/a: terminar seu TCC.

*Dicas de uma pré-concluinte aos calouros/feras: leiam muito. Quanto mais vocês lerem, menos leram. Leiam de tudo, estudem tudo, observem o mundo e sua sociedade, iniciem as críticas, se critiquem e se deixem provocar, concomitantemente, provoquem!

Ivna Alba

No lugar do vazio. No lugar das palavras

O que você sabe sobre cinema? O que você sabe sobre escritos? O que você sabe sobre teatro? O que você sabe sobre pintura?

VOCÊ NÃO SABE NADA!

NADA

NADA NADA NADA

NADA NADA

NADA
NADANADANADANADADANADAnãodáemnada

Essa vida não dá em nada.

Essa vida não dá nada.

Essa vida não dá.

Não...

Essa vida...

Dá!

Ivna Alba

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Tecitura

Amaram.
Gozaram.
Gestou.
Nasceu.
Chorou.
Falou.
Andou.
Cresceu.
Estudou.
Apaixonou-se.
Formou-se.
Trabalhou.
Enriqueceu.
Vestiu-se.
Beijou.
Enloqueceu.
Trepou.
Desprotegida.
Gozou.
Aids.
Morreu.

Ivna Alba

Amargo

E existia um cheiro ali, de tudo que era podre e azedo, não necessariamente desapropriado para o consumo, porém imprudente se ingerir.

"Adalberto"!

A voz da mãe o chamava do limbo, onde se havia perdido, diante de tudo que se havia tornado a vida dos dois. Não que não se dignasse, ou não quisesse ouvi-la, mas que eram naquelas horas e dias, meses e anos de solidão que ele reparava como se precisava de paz; e paz era algo inimaginável, tanto pela presença materna, quanto pelo que era dito pela boca dela, pelas palavras proferidas por ela, pelos sons guturais emitidos pela garganta dela. Quando se sai do inferno é que se tem a certeza da existência de um paraíso.
Pensando na solidão: foi assim que Adalberto dormiu sua última noite naquele quarto, cuja verossimilhança de quarto inexistia, todavia ele sabia que era daquela forma que o via e sentia, por mais fedor e nojo que tinha de tudo aquilo ali. Quadrado de luz lunar formada pelas grades da janela milimetricamente calculada, retorcida de barras grossas e imundas de ferro fundido e chapado. Pela pouca iluminação de uma possível pia, de um colchão cheio de pulgas e cortejos de dejetos e baratas rodopiando seus sonhos ou pesadelos.
A estrita maneira de se tornar afável nos momentos de não embrigaguez da loucura, uma torrente de cenas que não lhe aconteceram, contudo o fizeram crer ocorrido, uma porção de gemidos fragmentados e riachos agridoces de sangue empoçado e empapado na camisa e no assoalho de madeira, que nunca vira.

"Amanhã, Adalberto, será teu desfecho, na ponta daquela agulha, e tu invarialmente não podes dizer que sim, nem que não, porque doce o mundo não é, e amargo vai ser teu final.

Ivna Alba

sábado, 28 de junho de 2008

CIGARROS X BEBIDAS

A simples pergunta é: "Porque as propagandas de cigarros saíram do ar e as de bebidas não"?
A resposta não me vem sensata. Que cigarro é prejudicial à saúde, todos nós sabemos disso, entretanto, a bebida também é. Eu, particularmente, não conheço nenhuma família que tenha se desintegrado devido ao cigarro, no entanto eu conheço inúmeras que se esfacelaram por causa do álcool.
Está evidente que a autora desse texto, dona desse perfil é uma fumante inveterada, nojenta, que solta fumaça por todos os cantos onde passa e é mal quista e vista por muitas pessoas que desprezam de forma absurdamente preconceituosa o cigarro. Eu sou mais uma das pessoas que está fadada à exclusão da sociedade e querem saber? Eu tenho minhas idéias, meus gostos, minhas falhas e minhas qualidades e, acima de qualquer tragada ou baforada, eu sou um ser humano.
Falta de informação? Absolutamente! Considero-me bem informada e até sei que sou capaz escrever uma sentença inteira, sem causar tanto assassinato à língua portuguesa. Mas, observem bem, caros leitores, acima da informação, existem as escolhas. Constam nos autos que todo homem e mulher tem sua liberdade de ir e vir, dizer e fazer o que pensa; sem que com isso prejudique a outrem, porém não tenho visto isso ultimamente. Respeitos os de "pulmão limpinho" - mas confesso que não sei como as pessoas, hoje em dia, conseguem ter o pulmão tão limpinho com essa quantidade absurda de gás carbônico lançado na atmosfera - e compreendo, perfeitamente, os que não querem sentir o cheiro da fumaça do "fedido" cigarro dos excluídos. Não fumo em ambientes fechados e quando alguém me pede para que eu saia do lugar, pois estou incomodando, eu saio. (Sim, isso uma vez aconteceu, eu estava na apresentação da escola de música de uma amiga, onde o local era completamente aberto e bem ventilado, e uma senhora me pediu para eu me afastar, pois ela tinha alergia e já estava sufocada. Bem, eu saí, fazer o que? Só para constar, a mulher deveria estar a uns dez a vinte passos largos de distância de mim e eu havia dado, apenas duas tragadas.) Embora eu saiba do ditado: "Os incomodados que se retirem", eu me sinto constrangida e muito humilhada, assim como acredito que muitos fumantes também se sentem.
Primeiro, proibiram o cigarro nos cafés dos shoppings, agora proibiram em boates e bares fechados, querem ou já proibiram o cigarro quando se está dirigindo e depois, proibirão onde? Nas nossas casas? Nos nossos quartos? Passará a ser uma droga ilegal? Agora vem o argumento seguinte: com que autoridade uma pessoa que bebe de cair, ou apenas bebe para dar aquela relaxadinha, ou dormir de forma agradável tem de chegar para mim, ou para qualquer fumante e dizer para ele parar de beber? Ora, meus caros leitores, sinto muito, mas vocês têm de convir comigo de que ao fumar, ninguém fica dormente ou perde os seus sentidos. Duas taças de vinho já são o suficiente para fazer com que o indivíduo perca um pouco o seu reflexo, e é porque não estou citando nem os casos de pessoas fracas para a ingestão de bebidas alcóolicas.
Além de tudo, as propagandas de bebidas geralmente sempre trazem uma idéia meio distorcida da mulher. Não vou dizer que algumas propagandas de cerveja não são legais. Em certos casos existem publicidades muito criativas e hilárias, mas quase sempre vemos essa distorção do papel feminino. Eu, como mulher, não gosto nem um pouco da idéia e parece que esse será um fardo para todo o sempre.
Se liberam a idéia de que o álcool é alegria e diversão, contudo pode matar um monte de gente, o cigarro também é alegria e diversão para quem fuma e curte soltar suas tragadas por aí, então liberem a publicidade. Correto afirmar que a culpa das mortes no trânsito, causadas pela ingestão do álcool é dos motoristas. Mas, porque eles bebem? Porque existem propagandas que induzem a isso. E agora vai me dizer que toda vez que um fulano beber, ele deve pegar um táxi (o correto é isso, não estou dizendo que não é)? Haja grana! Principalmente quando o indivíduo mora em São Paulo e ele precise sair de Perdizes e voltar para sua casa que fica quase na divisa com Guarulhos.
Eu bebo e fumo sim, mas estou vivendo, tem gente que é natureza e está morrendo! Parafraseando a velha e gostosa canção do bêbado feliz. Os fumantes não têm um hálito tão agradável, mas quem bebe também não fica com um aroma de rosas, quando abre a boca.
Sim, mas o que ela está querendo dizer por fim? É o seguinte: as propagandas de cigarro eram tão boas, as vezes até mais bonitas, do que as do álcool. E se ambos causam mal, acho que ou se deve parar tudo, ou liberar tudo, lembrando sempre de colocar os dizeres: FUMAR CAUSA CÂNCER DE PULMÃO e SE BEBER NÃO DIRIGA!
Aonde anda a liberdade de expressão, meu Deus? Estudar comunicação social é extremamente difícil, porque você vê no final que nada do que se dizer é verdade.
Eu não conheço nenhum F.A. (Fumantes Anônimos), mas eu conheço o A.A. Eu nunca vi nenhuma pessoa chegar em um bar e dizer: "Pare de beber, isso faz mal"! Mas, já chegaram inúmeras pessoas para dizer a maldita e nojenta frase: "Pare de fumar, isso faz mal"! A todos, eu solto meia dúzia de desaforos. Mal educada? De forma alguma, eu exerço o meu livre-arbítrio, só isso; sou de maior, vacinada, pago meus impostos (inclusive na compra do cigarro) e acima de tudo, eu sou um ser humano, uma mulher muito ciente das minhas atitudes e das minhas palavras, bem informada, que quer ser respeitada e não discriminada por uma sociedade que prega o voluntariado e campanhas da fraternidade, mas não espera um segundo, apenas, para atacar a pedra no primeiro fumante que encontra na porta do bar, onde tem uma placa com o seguinte aviso: PROIBIDO FUMAR!
Ivna Alba

sexta-feira, 28 de março de 2008

A pergunta que não quer calar

Porque se tem a impressão dessa vida ser uma constante e árdua bebida amarga? Porque se possui esse desgosto, de que os dias são sempre assim: desmoronando em pedras e perdas diante dos ombros?
E quando se vê tudo isso, observa-se que é chegada a hora de dizer adeus ao ato final. Constata-se que já foram dados tantos acenos de último momento. Olhe para a platéia - "Nossos espectadores já foram?" O diretor responderá que sim, com uma voz grave e baixa, quase sussurrada. "Os outros atores também já se deram por vencidos." - continuará a responder o que seus olhos não querem crer e você prefere não ouvir.
E em meio a gestos imersos em sombrias dúvidas, em tristes certezas, a palavras e frases incognoscíveis, você questionará a meia voz:
- O que eu fiz com meu espetáculo?

Ivna Alba

sábado, 22 de março de 2008

A cria de Saturno

Eram duras e cruas as dores do parto, a mulher sofria, gemia, berrava estridentemente, do seu rosto, o suor escorria em gotas grossas. O seu vestido ensopado pregava na pele, que subia e descia, de acordo com a sua respiração cansada. Era meio-dia, e o Sol estava a pino. Encostada em um eucalipto e sozinha no mundo, aquela senhora de quarenta anos sentia as dores aumentando, a cada minuto passado.

Na sua idade, a gravidez é de risco, ainda mais ali, naquele fim de mundo, onde só existia ela e a casa. Aquela criança não era bem vinda. Fruto de um estupro seria rejeitada pela mãe a vida inteira. Ela odiava o que carregava em seu ventre, para ela, de suas entranhas nasceria um demônio, um bicho qualquer, que depois de posto fora, faria questão de enterrar. Enquanto pensava tudo aquilo, fazia força, e depois de um tempo, ouviu um choro curto.

Lassa, pegou uma pedra e cortou o cordão umbilical, que era o único laço que os ligava. Pegou o pequeno estorvo, lembrou-se da cara animalesca do homem que a violentara e teve um asco. Em seguida, foi carregando a criança pelo pescoço. Ainda estava cansada, mas conseguiria chegar a sua casa e acabar com aquele pesadelo. O menino chorava baixo, era magro e tinha feições estranhas, em outras palavras, era uma ínfima aberração da natureza. Cabeça enorme, tronco curto, braços grossos e muito pequenos. Pernas finas e demasiadamente longas, seus olhos eram grandes e estufados; sua boca, carnuda e pequena, seu nariz muito achatado, sua cor assemelhava-se a um roxo. Era horroroso, talvez por receber tanto ódio materno.

A mulher chegou a sua casa, lavou a criança, tomou água e começou a afiar uma faca. Pegou a tábua de cortar alimentos e pôs o menino em cima. Terminou de afiar o instrumento e golpeou sem dó, a cabeça do menino, que esperneava lentamente por comida. O sangue jorrou rápido, e em poucos instantes, a bancada da cozinha ficou banhada de um vermelho carnal. Ela continuou a fatiar cada parte do seu próprio filho, carne da sua carne e sangue do seu sangue. Terminada a operação, pôs em uma panela os pedaços, deixou cozinhar e foi dormir sem o peso na consciência, que carregava antes.

Quando acordou, já era noite, e ela sentiu o cheiro gostoso de carne cozida. Levantou, lavou-se e foi jantar. Abrindo a panela, um cheiro estonteante subiu às narinas e de sua boca abriu-se um sorriso. Pegou uma coxa, sentou e começou a saborear o jantar suculento, entretanto, seu ódio pela criança transformou-se em um veneno. Então, ela sentiu repentinamente sua respiração trancar, sua boca amargar, suas vísceras explodirem, seu coração dilatar e, em segundos, ela debateu-se, caindo estática no chão frio da sua casa, no fim do mundo.

Ivna Alba

quinta-feira, 20 de março de 2008

CLASSIFICADOS


O IP de hoje não é mais como o de antigamente...

Sabe aquela juventude de ontem, em que você viveu? Pois é, a de hoje não é mais a mesma. Sabe o que os seus filhos vão desejar? Pois então, nem eu saberei responder a esta indagação. Onde se ganha tempo com aparatos tecnológicos, perde-se também a personalidade e se põe no lugar dela uma enorme gama de idéias que só se pode comprar. E a cada novo segundo estas idéias serão ultrapassadas por um imenso conjunto de novos artigos de consumo e as informações serão vomitadas em sua mesa.
Mas aí mora o perigo! Seu garfo não é do último modelo e por isso você não poderá cortar a carne. Para esta você também necessitará da faca modelo 2.0 Version Plus. Ah! Seu dinheiro foi para pagar a conta de luz? Então, infelizmente não poderemos lhe enviar o tutorial da colher, que seria a ideal para recolher e triturar o conteúdo já ultrapassado da alface.
Se sua boca estiver com o creme dental atualizado, isso será um ponto positivo, porque só assim o vírus da corrosão não lhe entrará no organismo, afetando o download do arroz diuturno do seu trabalho.
Já parou para observar o seu office hoje? Então, certamente detectou que seus amigos só estão aparecendo offline. Isso tudo nada mais é uma amostra do que virá a ser a juventude de hoje, mais tarde, e um pequeno teatro do absurdo que implica a quantidade de informações que o mundo tenta consumir, atualmente.

Ivna Alba