quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Branco

E era chegada a hora da partida. Mas, que partida é essa que avassala seu coração? Que despedida é essa que se tem, onde não se pode pensar em mais nada, a não ser na falta que se sentirá das pessoas.

Olhar para frente não é uma tarefa fácil, olhar o mundo de frente muito menos, embora se faça um esforço para se tomar a realidade nas mãos, acariciá-la e tomar-se inteiramente de um carinho pela fantasia. Obra do labirinto da vida, nos colocar em uma posição difícil, rodeando as lacunas da alma, em busca de alguma paz, algum amor, alguma sobrevida dentro de nossos espíritos.

“Ontem à noite, eu chorei”. Ela me disse sem pestanejar, sem palpitar na língua, sem salivas a escorrer pelos cantos das papilas, sem ranger de dentes, serenamente esculpida em ares de eterna sincronia com o branco das paredes. Quiçá um tanto mórbida, mas enfim tranquila. “Eu ouvi”. Respondi-lhe depois de dez minutos em completo e total silêncio. Que mais eu poderia fazer? Abraçar-lhe depois de não lhe conceder o mesmo carinho, mais?
“Chove”. Interrompia a minha mente vazia, suas palavras. Como se eu mesmo quisesse que ela se intrometesse em minhas divagações sobre o fim incessante daquela tortura inútil e imbecil.
Lembro-me do branco.
Lembro-me das últimas letras.
Lembro-me das não lembranças, as cortinas voando pela sala toda branca, bolinando o sofá branco, varrendo a penugem do tapete branco, dos livros intocados na estante branca, das paredes brancas, do teto abraçando o lustre branco em minha direção e lembro-me do vento.
Depois tudo se tornou um eco de recordações, as quais eu já não sabia.
Na mesa os pratos do café, tudo em branco e acrílico, no centro nada mais que uma geléia rubi.
“Senta-te”!
Mergulhei, então, no corpo dela, sem saber ao certo onde eu deveria chegar, mas desdobrei-lhe cada parte das entranhas, cada visgo de secreção, cada pêlo, cada dobra de derme, cada estalar de pestanas, cada lágrima fugidia, cada batida intensa do coração, cada subir e descer dos pulmões e trabalhei profundamente nos seus alvéolos, querendo sê-los.
“Bruxa! Bruxa! Bruxa! Bruxa! Bruxa! Bruxa! Bruxa!” Repeti milhões de vezes, para que eu soubesse de quem se tratava, por fim choraminguei em cima da geléia rubi, balbuciando um “eu te amo” miseravelmente apaixonado, descascado em trezentas toneladas de dores no peito.
Acordei com a mão dela em meus ombros, sacudindo meu corpo, pedindo para que eu parasse de chorar em vão.
Ela estava ali.

Ivna Alba

2 comentários:

Lorena Travassos disse...

no fundo, é uma delícia olhar pra frente!
beeeejo

insens disse...

E sobre o vinho:

O melhor é o banyuls. JA fzemos degustacao e é otimo pra chocolate. Qdo tiver distribuindo favor enviar minha garrafa. ( ela é pqeuna)