domingo, 21 de junho de 2009

Antes de ontem...

Na sessão de terapia:
- Como foi sua infância?
Breve pausa. Iniciava-se uma série de palavras pronunciadas com conexão, mas balbuciadas, até desatar no mais profundo chôro.
- Minha infância foi muito feliz. Acho que não houve época mais feliz em toda minha vida.
E dentro do âmago era consciencioso que não se deve chorar por algo alegre, contudo a vaga lembrança de que se soube assim, por alguns anos, trazia aos olhos uma repleta gama de reminiscências líquidas.
Gotejavam não apenas as proezas de subir na árvore que se dizia Pé de Manga Baixinho, como liquifaziam as tormentas e as angústias de ver o antes de ontem ficar tão atrás e não se tornar o amanhã possível de seus dias.
As acerolas colhidas pela manhã em seu xale neblina, a foto sentada no colo da mãe que parecia acordar naquela hora, as pancadas da massa do pão na mesa pela tardinha, as brincadeiras com a terra, com as plantas e os ternos e eternos carinhos da mãe - inexplicável e afável sintoma de recordações felizes e admiráveis.
Passou por um momento em sua cabeça, ao entrar no corredor branco e vazio, que se sentira amada apenas na infância. E nesse breve rato sucumbiu à realidade de não ter na lembrança outra pessoa que não sua mãe, ao lhe ver, tomar nos braços, sorrir e lhe amar.
Os outros rostos?!?
Alguns nas cadeiras, estáticos, pétreos e enevoados.
O pior, não era saber-se infeliz, mas ter aquele nó de berreiro preso na garganta e reprimir-se diante de tudo e todos.

Ivna Alba

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Catamira

Esquálida!
Assim poderia ser descrita Catamira.
Definhando todo o dia mais um pouco, em todos os sentidos. Catamira era um gênero que não poderia ser chamado de mulher, não parecia haver sexo em sua pele, nem em sua vida, muito menos em seus genitais.
Criatura de quarenta anos e poucos, morava em um quitinete de cozinha, quarto e um resto de sala, onde não recebia visitas e o fogão estava quase sempre desligado. No banheiro de azulejos brancos e com lodo entre o rejuntes, acumulavam-se os resquícios de vísceras do trabalho enfadonho e demente.
Débil enfermidade de pulsações: em seu ventre eram as únicas oportunidades de se sentir viva, vez em quando, depois do almoço.
No mofo a pouco e monótona conversa do fim de dia. A solidão enternecendo o colchão furado e umedecido pelas goteiras, nos dias de inverno.
Catamira não sabia o significado de muitas coisas e pouco relutava com isso - talvez por desistência, ou por insistência em não querer se atormentar por algo que estivesse há tão longíquos tempos luz.
Mas, naquela noite fora diferente. Verdadeiramente, há muitas semanas a diversidade se categorizava-se por um abscesso recorrente e intragável na parte interna da coxa magra, quase rente à virilha. Escuro e purulento. Aquele não desistira tão fácil da mulher.
As pernas com os pêlos grudados pela água e sabão, e Catamira tentando espremer o caroço inflamado. Na desistência, melhor esfregar o resto do corpo, tocando e retocando as costelas, os seios murchos, as pernas, joelhos, braços, cotovelos, costas, as nâdegas e o ânus cheio de pentelhos.
A água escorre e Catamira sente que o resto do resto se esvai pelo ralo, e junto com ele, ela.
E o abscesso que não se transfigurava, apenas aumentava com a indiferença do mundo.
Uma mosca que vai e vem, uma vontade de nada dançava nas pupilas e ingressava na íris, circundando uma apoteose de vagar, em seu absurdo e pungente tormento.
"Que fazer, Catamira? Quem é você, Catamira? O que é você, Catamira?"
O espelho minúsculo de bordas verde-limão era embaçado com o hálito morno. Mas, pouco importava se olhar, se ao menos ela pudesse se ver livre daquele tumor, estaria satisfeita com a vida.
Na cabeça, uns poucos versos da modinha que ouvira antes de chegar em casa, a luz fraca do quarto/banheiro, os dejetos de lembranças do ano anterior e o abscesso ardendo-lhe entre as coxas.
"Pensar, é coisa para quem sabe, Catamira. Você é só mais uma criatura. É a massa, Catamira!"

Ivna Alba

domingo, 7 de junho de 2009

De amor e de bemol

Vês, minha pequena:
Eu me perdi em ti e tu em meus braços.
Escuta o barulhinho da luz do Sol e me diz
Fala baixinho, mas diz que fui eu que te criei em mim.
Deixa-me segurar em tua mão e sorrir.
Lembra daquele bemol que fiz em teu modo menor.
Correrei aos teus apelos,
Mergulhando em teu pacífico
Mas, já será tarde...
No meu amor sustenido
O teu tom desafinou no meu.
A harmonia que eu fiz você esqueceu.
O nosso arpejo nunca mais se encontrou.
E do meu allegro fez-se o adágio
Enquanto no teu scherzo esqueci
Os nossos laços.

Ivna Alba

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O Leão está solto nas ruas...



... por descuido do seu domador!!!

"Bob Charles" é um gênio e tem bicho pra tudo nesse mundo!

Ivna Alba

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Angelo Alba

Eu quero ter um filho!
Peguei-me pensando dias atrás, depois que conheci Você!
Eu quero ter um filho, que se chamará Angelo - assim como meu bisavô - sem acento mesmo, o tom forte no A virá com sua personalidade, que não serei eu a ditá-la.
Angelo será uma criança linda e feliz: olhos azuis e grandes, cílios pretos e longos; muito branquinho, macio, cabelos negros lisos e um sorriso de encantar o mais duro dos seres humanos. Serei sua mãe que chorará ao vê-lo deitado e quietinho em meu colo, ao nascer.
Ele sairá do meu ventre, forte, viçoso e sadio, porque obviamente eu me disporei a passar 9 meses sem fumar por ele, para que nasça perfeito. E gerarei um ser perfeito, forte e rijo para esse mundo insano.
Ele apreciará as artes, a boa música, o teatro, o cinema, gostará de beber, se quiser fumará, não sei se desejará provar maconha ou algo do tipo, mas eu quero que ele crie a personalidade dele, e sempre que precisar eu lhe direi: "Certamente, isso será melhor, meu filho!"
Angelo não será batizado, porque terá a escolha de saber o que é melhor para si, mas Você dirá se quer ou não indicar o caminho de algum lado espiritual para ele.
Antes de tudo, Angelo será um homem educado, e não dessas crianças atuais, que gritam e batem nos pais.
Angelo, desde já é amado, mais do que qualquer outro ser deste mundo, por mim.
Não sei se meu filho será uma produção independente. Isso vai depender de Você.
Mas, já me vejo grávida, com um sorriso perfeito em meus lábios ao vê-lo me chamar de Mãe, pela primeira vez.
E já me vejo plena ao receber Angelo em meus braços.
Angelo Alba: meu rebento e minha felicidade!

Ivna Alba

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Santo MP3!!!

Eu agradeço todos os dias ao homem ou a mulher santo/a que criou o MP3!
Vocês, leitores, podem até pensar:
- Mas, já faz tempo que isso existe.
Claro que sim, já tive inclusive um de 128MB, mas a tecnologia é outra coisa bendita. Investir dinheiro em roupa? Sapato? Cabelo? Unha? Depilação? É bom, vez em quando, mas juntar o seu vil metal e comprar aquele celular com tudo que você quer, de mais ultra, super, power, hiper moderno é a melhor coisa que existe, em minha opinião.
Pelo menos para mim, que adoro ficar repetindo uma música que amo. Coisa que a maioria das pessoas reclama horrores. Esse ERA um dos meus maiores defeitos, para as pessoas que conviviam comigo - minha irmã que acompanha este blogger vai ratificar com muita veemência, ao ler isso aqui - mas que graças ao MP3, isso deixou de existir.
O máximo que pode acontecer é a audição ficar um pouquinho estragada, mas fazer o que? Tudo tem um preço.
Não tem nada que pague você poder andar pelas ruas e não precisar ouvir certos sons desagradáveis, como carrinhos de Cd's piratas tocando aquele Axé miserável.
Faço o meu dia com a minha trilha sonora. A música para mim é uma das coisas mais agradáveis que existem e não há alegria maior quando acho aquele som na Internet, baixo, passo para o celular e posso ouvir milhões de vezes, sem me preocupar com a maldita frase:
- Meu Deus! Troque essa música!
Não, caríssimos, o século XXI é tão maravilhoso a ponto de guardar sua individualidade, seus gostos, seus estilos e aquela sua mania, que para muitos pode ser extremamente desagradável, e fazer da sua vida a paz eterna.
As risadas, as conversas, os olhares, o andar das pessoas, a pressa dos carros e a vida ganham a trilha que eu quiser, e com isso, muita coisa fica guardada melhor na lembrança.
Não nego que nada supera também a alegria de sentar ao banco do piano e tocar o que quiser, na hora que desejar.
Cartões de 1, 2, 8, 16GB: isso soa perfeito!
Isso não apenas soa perfeito, é perfeito!
Próxima aquisição?
Meu notebook com bluetooth, para não precisar de fios para passar e repassar o que for desejado.
A tecnologia é insuperável!
E o MP3 é sublime!

Ivna Alba