terça-feira, 28 de janeiro de 2014

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dos tempos...

Excluamos do indicativo todo e quaisquer restos do futuro do pretérito.
Nele residem todas as frustrações.

Ivna Alba

Carlota Bareghia V

- A gente acha que tudo e todo mundo é bom, quando vê de baixo para cima. Mas, ao ver na mesma altura, as coisas se tornam bolhas cinzas de sabão e explodem. Assim é esse mundaréu de coisas, Seu Alceu... Assim é o mundo e suas pessoas de mente e corações bloqueados. O mundo sempre foi e será dos medíocres organizados.
Enquanto falava baixinho e entre os dentes, Carlota colava vagarosamente o zap na testa do Alceu, que não fazia nada, absorto diante tantos dizeres profundos, vindos de uma moça cheia de vida e rellena de desilusões.
Não é que a italianinha ganhara a negra novamente?

Ivna Alba

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Matrimônio

Aceita-me e te devoro!

Ivna Alba

Carlota Bareghia IV

Existia um encantamento naqueles olhos grandes redondos e castanhos. Duas contas imensas de pureza sondavam os pés da mãe, do pai, dos tios e tias, enervavam as rugas ordenadas dos tornozelos dos avós e com suas mãozinhas repetia os movimentos de pulinhos com a boneca de pano.
Na turbulência da reunião familiar, ninguém parou para falar com a criança que olhava para tudo e já sentia plantada em sua realidade as perguntas:
- Quem sou? De onde venho? Para onde vou?
Carlotinha, ou melhor, Titinha não entendia o homem, e dali a pouco não entenderia o mundo.
- Uma mescla de bagunça dos diabos!
Gritava e socava as poucas mudas de roupas dentro da mala. "Aos malditos que moram nesta casa de misérias, uma vida de muitas calúnias".
Batera o portão da quarta pensão, onde se enfiara aos dezesseis anos, e já estava amarga demais para chorar por falsos e medíocres.
- Aos diabos, corja dos infernos!

Ivna Alba

Carlota Bareghia III

Como o fel mal tragado de um cálice de falso valor, ela abriu com os dedos sangrando a pouca carne que restara em seu coração roto e disse-lhe:
- Ainda te dou vinte contos de réis.
Ganhara em troca pouca consideração e, ao menos, um ombro para encostar nas horas de solidão completa, a cabeça de madeixas grisalhas.
No fim, o que julgamos ser a vida?

Ivna Alba

A construção do fim

Um bloco de notas e o pensamento vazio de você!

Ivna Alba

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Carlota Bareghia II

Apalpou o sonho com as próprias mãos. Sentiu, cheirou, bolinou, fez amor com ele, mas tão bem amanheceu, ele largou o berço dourado que ela preparara e se foi. Dali, vieram as tempestades e Carlota Bareghia que um dia fora feliz, deixou de acreditar nos dons, amores e sonhos velados.

Ivna Alba

Carlota Bareghia I

Com seus ares de graça ela veio vindo, quase que esvaindo, pulando cercas e obstáculos maiores. Antes, a rapaziada achava graça, mas bastou Carlota viajar e passar vidas e séculos longe de seu antro, que cada qual virou desgraça e daquilo tudo apenas a fumaça tinha a mesma cor que outrora.
Só então Carlota descobriu que o seu trigo era, na verdade, joio.

Ivna Alba

Àqueles que a condenam

Minha cidade é feita de concreto.
Reto,
Obtuso,
Discreto.

Ivna Alba