terça-feira, 24 de março de 2009

Wania

Um frio marmóreo lá fora.
Silêncio no banheiro.
Pela janela do cômodo se tecia o cinza e os flocos de neve.
Pés ebúrneos deslizam e pousam suaves em frente à banheira. A mão delicada de Wania abre a torneira e a água quente desaba lânguida perpetrando todo o vazio.
O corpo era magro, flácido, sem nenhum frescor mais da juventude, muito menos atrativos exarcebados pela natureza feminina. Wania era comum como aquele silêncio e o vazio.
Sentada na borda da banheira, a carne das nádegas cedia ao peso dos ossos, deixando uma grande marca vermelha. Pernas cruzadas, os dedos dos pés encolhidos, as mãos imprensando os dedos. Ela os prendia até arroxearem, depois soltava; assim podia ficar por horas. Os braços eram finas lascas de pele e esqueleto, algumas marcas de apertões e chupões gravavam sua história por algum espaço de tempo, assim como os seios murchos cediam mais ao pretérito, que ao atrito e as clavículas expontâneas.
Wania gostava de cruzar os braços na frente dos seios e apertar os ombros com as mãos em conchas, punha a cabeça para trás e olhava pelo espelho a garganta se transformar em arco. O rosto se fazia pleno, na calma. Cabelos castanhos, sobrancelhas finas, boca pálida, tez quase encerada pela falta de vida. Vida que não sabia viver desde que nascera.
O nariz pontudo só era percebido no perfil. Sentia tudo. Sentia pelo ar os desastres e bem-aventuranças que poderiam ocorrer.
A água quente queima-lhe o bumbum. Hora de imergir.
Lá fora, o plúmbeo acena.
Dentro, a água espalha um abafado ruído.
Ao entrar, Wania desloca a água, fecha os olhos e entra inteira na banheira.
Ao pôr a cabeça para fora a audição sensibiliza a atenção. Não, não iria olhar para trás, muito menos para dar cabimento.
Apenas sentia a respiração e o calor se aproximando. Aquela respiração deixando a pele mais úmida e quente. As palavras sussurradas ao ouvido deslocando gotículas minúsculas de saliva e alta temperatura, amolecem as pálpebras de Wania e os cílios se tornam um só trilho.
Não houve toque, apenas o saber estar.
A garganta como arco, os trilhos, o calor da respiração e o balbuciar como única forma de penetrar-lhe.
Paulatinamente, uma sucessão de movimentos esparsos e conexos retumbou do silêncio ao eco.



Ivna Alba

Um comentário:

Lorena Travassos disse...

ebúrnios???
vou ter que andar com dicionário pra poder te entender?
mas eu tenho certeza que o texto ta massa.

beijo e saudade, xuxuuuuuuuuuuuuu