domingo, 8 de março de 2009

Efêmero, insuportável efêmero...

Estava meu pensamento circulando por muitas zonas livres este dia, quando repentinamente surgiu-me uma súbita idéia agoniante: mais um ciclo está se fechando para mim. E, creio que não só para mim, mas para muitas outras pessoas que conheço.
Pouca idade, mas uma certeza: o tempo está me tragando, me consumindo cada segundo mais e cada dia me engolindo com mais e mais voracidade. "Mais"! Esta é a palavra que se tornou muito comum.
Hoje todos querem "mais": mais conforto, mais vida, mais saúde, mais dinheiro, mais comida, mais roupa, mais emprego, mais casa, mais carro, mais velocidade, mais amigos, mais família, mais amor, e no final a única coisa que se tem é "menos". E o principal: temos muito, mas muito "menos" tempo.
Esta semana não passou apenas trotando, nem galopando, ela passou voando, literalmente voando a zilhões de quilômetros por hora. E nem bem amanhecia outro dia, a sexta já dava o sorriso mais terno, para quem esperava a hora de chegar ao bar e se deliciar com a primeira cerveja do final de semana.
Simplesmente aconteceu de mais uma semana chegar, o mês de março entrar e não tivemos tempo ainda de cogitar o que aconteceu.
- O tempo passou!
Sim, simplesmente o tempo passou...
A questão é justamente essa: menos e mais. Quando realmente estaremos prontos para encarar a efemeridade que tão logo nos furta mais um sopro de vida ou descanso? Por estes dias receberei meu diploma e a primeira pergunta que me faço, antes de mais ninguém é:
- E agora, Ivna Alba?
Junto comigo, milhões de jornalistas recém-formados serão despejados no mercado de trabalho, e a grande maioria não será absorvida. Queremos "mais" empregos? "Entretanto, não é possível!" - me diz o porta-voz do governo, no jornal da noite. E nos submetemos ao primeiro subemprego que nos aparecer, com a gana de tentar sobreviver neste mundo de bocas, neste universo carnívoro de tempo, onde as frustrações são muitas e os que conseguem mais tempo, não sabem o que fazer com ele, porque possuem tudo demais, se esquecendo que o mundo é o de menos, com o que se preocupar.
Pois é, costumam me dizer que sou muito jovem para me preocupar com certas coisas, contudo se eu não me preocupar agora, serei mais uma senhora que não viu o tempo passar, que não cuidou o quanto antes e no final da comédia, não saberá como fechar a cortina.
Gostaria de poder vivenciar melhor meus bastidores, por falar nisso. Porém, nem para isso tenho mais tempo, nem dinheiro e nem emprego.
O meu maior medo, nesses últimos tempos, é me tornar uma pessoa frustrada. Não, meu medo nunca foi o da morte. Esta é apenas uma consequência de meu corpo possuir vida, uma banalidade cruel para quem fica, um alento a "mais" para quem vai; a única certeza que posso ter nos meus dias, e não me entristeço ou me inquieto por esta segurança, ao contrário sou feliz por, também, não possuir "mais" esta dúvida.
Quando, realmente, é que poderemos nos preocupar com a vida, senhores e senhoras experientes? Não foram vocês, também um dia, que quiseram se preocupar com o futuro, e lhes disseram que a idade era ínfima para tal agonia? Eu prefiro, desde já, pensar no futuro e saber que o efêmero, o insuportável efêmero, também golpeia e fere os mais jovens.

Ivna Alba

Nenhum comentário: