segunda-feira, 16 de março de 2009

O centro do mundo

Na pequena cidade de Tuiutarama vivia uma menina extremamente pequena, gorda, de cabelos castanhos e danificados pela genética. Não era feia de rosto, mas se achava hedionda. Depois de receber uma pedra no centro do crânio e levar vários insultos, para casa, por sua aparência; bem como se entupir de revistas femininas idiotas, o cérebro da criatura pipocou.
No que sua cuca fundiu iniciou uma guerra incessante entre o corpo e a geladeira.
No início negava a feijoada, a coca-cola, os docinhos, depois passou a negar o arroz. Logo ele, coitado, aquele acompanhante branco e com gosto indefinido. Então, justo o arroz!
Depois foram as batatas, cenouras e o coentro.
Ela começou a viver de 1/4 de uva.
- Uva, porque é comida de rainha!
Ela era a rainha?
- Rainhas têm cabelos bons, sua estúpida!
Gritava a peste da irmã de quarenta anos, que passava o dia inteiro na cadeira de balanço, comendo pipoca e coçando a enorme barriga, enquanto assistia Tv.
O cabelo foi para o formol.
- É, minha filha, nesse seu cabelo, a progressiva tem que ter 80% de formol.
Argumentou a senhora do salão.
Depois do cabelo, que não ficou lá essas coisas, ela depilou todo o corpo. Só não tinha coragem de depilar as sobrancelhas.
Agora era a própria visão da Matita Pereira: velha, magra, cabelos escorridos e grudados no rosto, sem nenhuma gota de vida no semblante e na alma. Sim, ela também começou a falar sozinha pelos cantos e corredores escuros.
- Mas, como elas conseguem ficar assim?
- Por que elas têm dinheiro, sua infeliz!
Gritava a irmã endiabrada.
Numa bela tarde de verão, encolhida no beliche, um objeto de metal brilhou dentro de uma das gavetas do criado.
- Uma pinça!
Imediatamente ela tomou o instrumento e começou a tirar os fios tortos da sobrancelha. Só alguns, de início. E não dormia mais, começou a observar o crescimento dos fios da sobrancelha.
Tuiutarama cresceu, entrou para o mapa do país e os fios teimavam em resplandecer no rosto cheio de rugas.
- Aqui tem, aqui não tem, aqui tem, aqui não tem...
Quando não tinha mais pêlo, ela beslicava a pele e repetia a meia voz o seu mantra.

Ivna Alba

2 comentários:

Gi Caipira disse...

Eu teria começado uma criação de gatos...
Os gatos são ótimos para acompanhar a loucura... além de terem muitos pêlos para serem puxados com a pinça :D

Insigne disse...

oi...
eu nao li ainda, mas vou ler
a gi (a caipira) que me indicou vc... pq eu acabei de parar de ser nutricionista pra ser cineasta... e tenho um blog q dá ansia de vômito tb...
:)
aviso qdo tiver alguma consideracao relevante...
beijos, prazer!
mari