segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Abertura - "Calem o silêncio das paredes!"

Eu escutei você falando:
- Só palavras, só palavras, só palavras...
Num ritmo e cadência constantes, promovendo um arrebatamento inconstante, de uniformidades lacônicas, em meu peito e meu ventre.
A carne palpita! A carne maldita! Tua carne maldita, Abrãao! A carne se quebra, se mela, se esvai, se entrega, congela, espera, se parte, se rasga, na entremela do dente, respiração arfante, possante, sentido de entrega. E nesse emaranhado se revela a alma da megera respulsiva que carrego nas entrenhas.
Maldita e lânguida, parca e renegada carne tua, Abrãao!
Abraça-me e expurga-me de tua vida e de tua lábia, Abrãao!
E, enquanto me exorcisas, deixa-me ouvir tua voz falando, lentamente:
- Só palavras, só palavras, só palavras...

Ivna Alba

3 comentários:

Wagner Oliveira disse...

E escorregar por sustenidos e notas oitavadas.

Wagner Oliveira disse...

Olha aí... só com a nossa "conversa" eu crio um álbum inteiro.

Dominick Van Shelley disse...

Gosto dos seus textos: Poéticos e profundos!