quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dos desesperos e afagos

Ela o olhou com caras e bocas, remexendo lépida os quadris estreitos, como se houvesse uma cadência submetida às batidinhas suaves da caixa de fósforos, umidecida pelo gelo derretido do copo de cerveja.
Nem bem o som começou, estourou-lhe no corpo a sensação brusca de torpor, ao passo que se envolvia nos braços do homem cujo rosto sustentava uma espécie de ruga embotada - estrias cortantes, dilacerando o gélido, vago e suave constante disparate da sensação delicada de se estar ali, sozinho e zonzo.
Entraram mudos, saíram assanhados, despejaram na sarjeta meia dose de uísque barato, encharcaram o corpo de meio litro de suor amargurado do ano retrasado e caíram na esquina.
Ela, para a direita.
Ele, gauche.

Ivna Alba

3 comentários:

disse...

O que eu acho bacana neste contos bem pequenos é que deixa a imaginação fazer bem a sua parte para completar o espaço vazio. Como cada um completa do seu jeito, o "recheio" sempre é bacana.

Como diria Qintana "As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho"

Unknown disse...

Voce sabe tão bem desenhar em palavras os setimentos que nos acalenta.

Wagner Oliveira disse...

Bati o olho numa só palavra... e não desgrudei mais dos seus textos.
Muito bom.