segunda-feira, 1 de julho de 2013

Chica Bregídia

Cada ser humano carrega nas mãos o dom de realizar ações perfeitas e incorrigíveis. Vale escolher qual linha delas seguir.
Existia na cidade de Ourives Velho, uma senhorinha negra, esquálida e de olhos sonolentos, lenço nos cabelos e pés dez para as duas, caminhando em ritmo de valsa. Quando tinha cinco anos, gritaram em meio à fazenda:
- Semo livres!
A mãe chorou com ela ao colo na cozinha e ninguém soube o que fazer dali em diante. A liberdade cobra o preço de se ter e do que se fazer com ela, quando esta lhe é tomada desde sempre.
Chica aprendeu tudo que se poderia aprender, mas foi ao peso do ferro de passar que calejou as linhas das mãos finas e frias. O gosto pelo calor do fogo, o fogo na brasa, a brasa no carvão. As tramas saltavam e os linhos e fazendas ganhavam brilho e nova vida ao toque do ferro de Chica Bregídia.
Não queriam saber de léguas, seus clientes.
De posses, ou não, ela cobrava de acordo com os dobrões que cada um tinha no bolso; o importante era trilhar o objetivo que escolhera com perfeição.
Não existia alguém na vida que engomasse melhor que ela e de nada mais precisava na vida, a não ser o fogo da lenha, fogo que escondeu do coração e se transformou em texturas ardentes.
Enfim, um dia a linha de Bregídia se apagou do carvão.

Ivna Alba

2 comentários:

Gugu Keller disse...

A única liberdade é a irresponsável.
GK

Raul Drewnick disse...

Ivna, o texto é um exemplo de concisão. Quase um daqueles haicais do Dalton Trevisan. Sem firulas, direto ao ponto. Gostei demais