segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Missa Solemnis

Hei de confessar-me atéia!
Em épocas distantes fui uma criança católica apostólica romana, cresci e tornei-me uma adolescente revoltada com os anjos e santos, esbravejando impropérios contra uma cristandade hipócrita, dogmas intangíveis e a beleza do sangue que escorria pelos espinhos e o pesado madeiro, que se sobrepunha a minha cabeça.
Surgiu-me a História da Feiúra, e muito antes dela, a dúvida. E, digamos, que não muito longe de ambas, apareceu-me a dicotomia entre o bem e o mal.
Nietzsche dissolveu minhas dúvidas e levou-me a conhecer à aurora do homem, o que não condeno, mas não admiro na obra platônica: sua caverna.
Eis que Beethoven me pôs em xeque-mate, ao ouvir, de novo e recentemente, sua Missa Solemnis!
A primeira vez que ouvi senti-me tão elevada, que chorei. Precipitou-me não uma lágrima qualquer, mas uma dor e uma alegria do mundo inteiro, e pus a música em modo "repetir", para ter a certeza de que não seria um estado que vai e vem, mas algo constante. Meu rei veio abaixo diante os peões, bispos, cavalos e rainhas do compositor.
Lembrei-me: era surdo!
Ouvi: é dor e êxtase, gozo e júbilo.
Como a estética há de explicar tal obra, eu não sei, mas entendo-a como uma das composições mais perfeitas e sublimes de toda humanidade, onde pode não se encontrar um bem ou um mal, mas toda uma conspiração de vozes que encaminham a alma a um amplo e elevado lugar, onde há luz e entardecer humanos.

Ivna Alba