quinta-feira, 6 de maio de 2010

A estátua de Árgona

Em frio mármore esculpido. Precisamente escalpelado e introduzido na água, cresceu Árgona. De belos seios, curvatura paradoxal e de tez prateada ao luar.
Por entre os dedos, segurando os véus que lhe revestiam o púbis e parte das pernas, em todas as tardes de densa neblina, recebia flores, frutos e o sangue de animais lhe decaíam entre as mórbidas carnes.
Árgona nasceu sem saber amar, apenas conhecendo o "ser amada". Em bela semana primaveril, quando os júbilos de pássaros e farfalhar de folhas se ouviam perenes, sentiu sua primeira flechada. Cravou-lhe o peito juvenil, outra raspou-lhe os olhos e mais uma sentou seu véu em mil pedaços, em pleno espaço e em meio aos prantos que não poderiam ser ouvidos, Árgona caiu prostrada por outro tremor.
Ela que nunca olhara para cima, agora enternecia-se com os olhos azuis e pueris de um jovem de 25 anos.
A terra a sobrepôs.
Após cem anos, seu seio ainda permanece intacto.

Ivna Alba

Um comentário:

Wagner Oliveira disse...

Eu não vou mentir: li isso bêbado.
E é tudo tão cinematográfico.