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Mostrando postagens de 2009

Dos desesperos e afagos

Ela o olhou com caras e bocas, remexendo lépida os quadris estreitos, como se houvesse uma cadência submetida às batidinhas suaves da caixa de fósforos, umidecida pelo gelo derretido do copo de cerveja. Nem bem o som começou, estourou-lhe no corpo a sensação brusca de torpor, ao passo que se envolvia nos braços do homem cujo rosto sustentava uma espécie de ruga embotada - estrias cortantes, dilacerando o gélido, vago e suave constante disparate da sensação delicada de se estar ali, sozinho e zonzo. Entraram mudos, saíram assanhados, despejaram na sarjeta meia dose de uísque barato, encharcaram o corpo de meio litro de suor amargurado do ano retrasado e caíram na esquina. Ela, para a direita. Ele, gauche. Ivna Alba

Da poesia para um amor

Caro rapaz, Eu te peço um minuto de tua vida para ler estas poucas palavras. Embora não pareça, eu sou aquela de modos frágeis, embaixo de uma Jericó. E, embaixo do meu travesseiro eu guardo muitos sonhos. Na verdade, eu os escondo, porque eu tenho vergonha. Envergonho-me de sentir a face ruborizada, de ser feminina, de ser elogiada - muito embora eu goste, como toda boa moça, de ouvir elogios. Não! Eu não tenho prospecções de formar uma família feliz, porém eu tenho desejo de construir minha vida junto a alguém, apesar de não saber se isso será possível. Na maior parte do tempo, caro rapaz, eu sou apressada, ansiosa, dispersa, mas eu tenho muito apreço, amor e gentileza para dar, assim como desejo receber em troca. Como eu não sou nenhum Mello Neto, para construir poesias, desfaço dos versos para criar o inverso: a prosa contínua de um moto contínuo, de um enlace que desenlace a face da minha pessoa em amor e lírica. Ivna Alba

Esboço para a passagem do tempo

O tempo havia descrito uma parábola completa de seis meses e dezenove dias completos e ininterruptos. Catarine levantara cedo, como todas as manhãs daquele prazo, e sentiu-se neutra. Os braços apoiados na grande janela do apartamento, as mechas louras escorrendo pelos ombros, o raio do primeiro sol desenhando-lhe o perfil na parede branca, o olhar cansado e sonolento, o frio interrompendo a respiração morna. Olhou o travesseiro e pensou em refugiar os pensamentos de modorra nele, mas nada lhe impelia a tal consequência. Em pouco tempo a moça havia amadurecido substancialmente, e partiu do que se poderia chamar, de um estrondo de alegrias fugazes, para o cerne das decisões sensatas. Perfurou as barreiras, desenlaçou o futuro com as próprias mãos, atingiu as dezenas de soldados do batalhão das adversidades e abriu as trincheiras do campo inimigo da vida sozinha, sem o auxílio de nada, nem ninguém. O que fazer agora? Seguir adiante - e sozinha, mais uma vez - o caminho que projetara para ...

A nostalgia do final de ano

Chegamos, novamente, em dezembro. Para mim, o melhor mês do ano e por um motivo apenas: a época da renovação das ideias e de si. Cada vez que o insuperável mês derradeiro invade a folhinha do calendário, tento sentir o "cheirinho de natal", de que minhas irmãs tanto falavam, quando éramos pequenas. Eu lembro de tantas coisas de dezembro: do Natal, quando meu avô era vivo, dos inúmeros presentes, da árvore que minha mãe armava no canto da sala - abaixo do relógio de pêndulo, que eu tanto amo - da emoção (quando cria em Papai Noel) de esperar chegar a manhã do dia 25, e abrir os presentes que o bom velhinho me deixara. Contudo, não vou mentir que o revéillon só veio ter um sentido mais forte em meus dias, depois que deixei de passá-lo ao lado da minha família. Para mim, os 10 últimos segundos são os mais fortes da vida, é onde tudo acaba e começará, se se começar. Entretanto, é o instante final de tudo que passou, de tudo que morreu, de tudo que se foi, que aconteceu bem ou mal...

Rapsódia

E na lógica que as cores e suas ausências lhe inventaram os amores, ela fundou sua vida em sonhos de arco-íris. Ivna Alba

Quando não se pertence mais a nenhum mundo

Olhava pela janela. O mundo lá fora estava da mesma forma que antes, ou seu modo de ver as coisas havia mudado completamente? Existia algo de muito estranho, uma sensação de aversão e, ao mesmo tempo, de horror. Os que nele se reconheciam, não o faziam mais, e a frieza começara a invadir-lhe o peito, a alma, os segundos e as horas de vida. Morder o fruto não lhe deixava a boca cheia de saliva, como para digerir os problemas, as lágrimas não lhe vinham, e se acontecia, eram poucas as que escorregavam faceiras de seus olhos. Mundo, tão diverso, vasto e distinto mundo de coincidências, pequeninices e mudanças repentinas. Assim, como de forma desapercebida, ele passou por aqui, deixou suas pegadas, que a brisa levou consigo em seu seio transparente e com cheiro de mar. Inundou-me completa e vivaz. Ivna Alba

Indícios do beijo roubado

Como se não bastassem os vinte anos, sem ninguém ao redor, Catarina inventou de recolher em seu baú de músicas e histórias sofridas, dezenas e milhões de timbres em modo menor. Espalhou-os todos no chão de sua sala, com piso de taco envernizado há pouco tempo e precipitou-se em lágrimas e gargalhadas convulsivas, relembrando de cada minuto e segundo auspicioso da vida. Como se já não coubesse dentro de si, tamanha reconstrução de vida, casa, amigos, família, emprego, mas principalmente, o refazer dela mesma. Tudo foi somado, calculado, refletido e bem pensado. Não! Catarina nunca faria algo do tipo. Pensado? Mas, naquela tarde de 17 de julho, ela fez. Planejou as páginas em branco de sua mais nova obra, apontou todos os grafites e esferográficas, desembolsou meia dúzia de taças de vinho, acendeu o charuto do pai - cubano legítimo - e pôs tudo para fora: seios, pernas, coxas, ombros, costas, pélvis, pênis, mãos, dedos, pés, joelhos, pescoços, nucas, até chegar à boca. Ao lado desta, um ...

E então, meu amigo...

Então, quando as coisas apertam, eu sento e choro um pouquinho. E o mundo não parece tão grande, nem tão pequeno... A lágrima derreterá antes que eu me vá, deixando um lastro de rigidez e frialdade em meu peito. Assim como o barco que vai e volta, penso que tudo não passa de maré. Ivna Alba

As coisas do mundo, como são...

E cá estou eu, em meio à sala/cozinha gelada da minha casa, com o note aceso, minha caneca, lápis e bloco da pinacoteca, enquanto penso em como as coisas se romperam e os meus sonhos saltaram em meu colo, repentinamente, com a selvageria de um leão corrompido pela fome instintiva. Há três meses atrás e quatorze dias atrás eu me achava sorumbática, em algum lugar distante dessa cidade ensandecida, e pensava: "Quando será o momento?" Como sou dada às viagens sem explicações, bem como decisões bruscas e imediatas, aqui estou eu. Por mais que as adversidades sejam gigantescas, decidi-me a não discar o número das mesmas, muito menos dar-lhes a menor importância. Se eu o fizer, para que vim parar aqui? A frase de ordem, desde minha partida e chegada tem sido: Seguir em frente, não importa o que se vá enfrentar. E, talvez por isso mesmo, não tenha sentido os efeitos vorazes da realidade. Claro que eu sei tudo o que está se passando a minha volta, obviamente reconheço os tortuosos de...

Quanta indiferença...

O que lhe acontece quando está tão triste assim? Ninguém deveria morrer de dor, nem muito menos de solidão. Nenhuma pessoa deveria ter o peito cortado pela tristeza. Não deveríamos conviver com a desconsideração, muito menos com o aperto no coração. Mas, quanta indiferença... Quanta indiferença... Eu gosto de fazer a diferença, da melhor maneira possível. E quando não dá para fazê-la? Aí, meu caro amigo, eu chamar-lhe-ei para o bar mais próximo. E na loura mais gelada, no copo cheio de ar brindaremos ao amanhã. E que ele traga muitas gargalhadas, esperanças e o sonho do futuro do depois de amanhã. Porque se somos incompletos, que nessa incompletude sejamos serenos, e despertemos para o que há de melhor do cotidiano. Ivna Alba

As fotos

Fotos, indubitavelmente, são os piores paliativos contra a saudade! Olhando certas imagens que fotografei do pôr-do-sol do apartamento da minha nona, minha ex-moradia, senti uma certa saudade de ver aquelas belas visões e me deixar levar por horas, pelos desenhos refeitos por cada nuvem, entrecortando os raios, emuldurando novas paisagens de um 2009 que não poderia imaginar ser tão bom. Mas, tudo é uma grande medida paliativa, como já falei! Lembrando que, estando lá, não era feliz, começo a repensar em muitas coisas, esquecimentos - que para algumas pessoas - eram tidos como falta de consideração, contudo nunca foram. Sinto-me imprestável quando gosto de alguém e falho com a pessoa, por puro esquecimento e isso me faz sentir uma impotência desgraçada. Cobro-me todo santo dia mais perfeição e quando não consigo atingi-la, minhas forças se esvaem por algum ralo das horas, marcadas no cuco. Maldita imperfeição e esquecimento! Tentar reparar as faltas, isso é o que tento fazer e peço desc...

A criação do nosso mundo

Eu criei um mundo lindo, dentro dos seus olhos. Era colorido e completamente preenchido de coisas boas. No meio do tudo e do nada, as músicas que lhe ensinei teciam repletas sinfonias de compassos amorosos e sedutores. Em sete noites e sete dias eu lhe amei inteiro. E como sete é ímpar, sobrou alguém. Sobrou-me o esquecimento, restou-me a falta de você. Ivna Alba

O primeiro

Na travessa do mundo, onde eras tu, onde fui eu, o primeiro homem em teus braços a passar. Ali me afoguei em águas profundas e negras, sentindo o borbulhar dos teus afagos, sabendo onde nem eu sabia que poderia mergulhar. Ali onde foste minha e eu teu. Ali no anteposto e passado composto, ali onde conheci a modorra envergonhada de teus olhos de cansaço. Ali onde nem ao menos ao léu eu poderia ficar. Ali onde tudo era vago caminho de entreposto e ressalvas. Ali na aurora do teu canto e de teu ressonar. Ali onde nem ao mesmo tempo me fizeste crer, que no anoitecer de teus passos, eu e minhas raízes, poderíamos fincar. Ivna Alba

Descontrução

Descontrua o tempo em mil ponteiros descompassados. Então, me responda: "Qual o segredo de se olhar no espelho, e descobrir-se mais velho a cada piscadela? Eis a ciência que nunca há de se conhecer, a menos que se dê o próximo passo para o descaramento de se ver sem roupas e sem mentiras. Ivna Alba

Homem, Humano, Humanidade

Ao que se interessa, pois Finda que essa chama já se põe Emplaca, não obstante A forma, com a qual se consagra Desabando em clausura constante em meio ao grito e a fome, ao mundo e a desordem. Circuncidando o pandemônio, a paz. Aquém do senil, a juventude. Enlameando os sorrisos em lágrima atroz, Distanciando as mãos e as bocas Ressurgindo das cinzas do vento Carregando em si Toda sorte de ambiguidades. Eis o congênito acre de tuas distâncias! Ivna Alba

Sobre a tese de mestrado

Enfim, achei o rumo para o meu mestrado: o título! É, porque diferentemente de textos normais, como: prosa, poesia, tese de mestrado é anormal e eu preciso do título para desenvolver a idéia. Com a quantidade básica de café para a noite de hoje, juntamente com o maço de marlboro red espero desenvolver o anteprojeto dele. De novo, o mal entra nos meus trabalhos e eu só penso: - Ivna, por que você só inventa coisa para esquentar a cabeça? E meu outro eu, o eu louco, responde: - Por que é bom esquentar a cabeça e viver coisas difíceis. Aliás, bom mesmo é pegar algo dilacerante e tentar torcê-lo por inteiro; depois que se termina o serviço, olha-se para o monstro e diz: "Eu venci, ganhei, derrotei você"! Acho que isso vem do meu instinto de não saber perder, de sempre desafiar o meu eu acomodado e incentivar, cada vez mais, meu eu louco. Como as duas faces da mesma moeda, eu vivo no cara e coroa, torcendo para que o coroa sempre caia com a cara para cima... Exatamente isso! Tudo ...

Sambinha Antigo

Pensei que minha cama era macia Que os lençóis brancos Afogassem suas mágoas. Pensei que meu teto fosse suficiente Para esta culpa displicente Que já não quero mais afogar. Achei que meu lar não era vazio, Que sua presença brilhava Cada dia mais com a luz do sol. Sonhei que nos seus beijos tão vagos De quem vem e passa rápido Ainda sim, guardavam amor, Beleza, ternura e carinho. Mas, hoje, tudo é diferente. Passei a ser descrente, Jogando fora seu frouxo amor E, no samba encontro Apenas, o amor que você Nunca me entregou. Ivna Alba

Amanitta

Amanitta tinha um sonho: de crescer, ser bem sucedida, inteligente, rica, ter um lindo marido, um casal de filhos mimosos - daqueles que todas as tias suadas e cheias de pó de arroz beliscam as bochechas - um cachorro chamado Pimpão e uma linda casa com um jardim cheio de roseiras vermelhas. Diferentemente do que ela desejava, cresceu, não conseguiu terminar nem o ensino médio - sua inteligência se comparava a de um pombo tonto - ganhava 10 reais por programa, o troca-troca de "maridos" era perene, soube que era estéril, numa consulta gratuita do programa hospitalar do São Camilo e o único bicho de estimação que ela tinha era uma catita que toda tarde lhe azucrinava as poucas imaginações, depois de uma manhã pouco dormida. Depois de muito desejar, Amanitta caiu em si e despertou em um dia às 15:15, decidida a não mais seguir aquela vida de ânsias, que já se quedavam revogáveis. Então, ela decidiu esperar... Sentada! Pegou a cadeira menos desconfortável, apoiou-se bem ereta e ...

E onde as idéias estão que não chegam?

Reclamo todo santo dia das idéias que me estão engasgadas, amordaçadas e entaladas na garganta como um bolo alimentar mal digerido e empancado no mesmo lugar. E no caminho de ida e volta do trabalho eu me cobro: - Chegar em casa vou escrever, vou terminar o romance, vou concluir a peça, vou finalizar aquele haicai! Ou seja, vou vomitar você, maldita idéia errônea, que vaga em meus pensamentos e me deixa impaciente com seu atraso, retardo, mal gasto tempo incômodo! E ela ri de mim. Caçoa várias vezes e continua lá: intacta, intocável, imóvel e irônica. Ódio! Como fazer para destruir essa barreira imprestável da inexatidão das idéias que destoam na cabeça do escritor que nada mais quer da vida, a não ser pôr no papel suas vãs palavras desdobradas pelos sentimentos? A resposta, ninguém sabe, ou ao menos, nunca disseram. Peço, imploro, revolvo meu âmago em busca de ti, concreta idéia insana, que me apareças, mesmo que na surdina da madrugada e me visites. Assim, quem sabe, descanso minha c...

Ivna: não é um nome difícil!

Realmente, não é difícil! Se vocês pensarem são apenas 4 letras, ainda possui a eficiência de ter o V mudo, ou seja, não é necessário pôr mais uma letrinha depois da pobre consoante, mas eu não sei por que as pessoas daqui tem tanta dificuldade em pronunciar ou escrever meu nome. Posso citar aqui inúmeras formas que andam me chamando ou escrevendo meu substantivo próprio: Ivína, Iona, Ivana, Ivina, Ývina, Ivyna... E por aí vai a lista medonha, cheia de aberrações e nomes medonhos. O pior, foi Iona! Indubitavelmente! Atendo o interfone do trabalho e o rapaz da transportadora fala de forma simpática: - Entrega para a senhora IONA! Soou dolorido em meus tímpanos: I-O-N-A! Dois erros consistem nesta frase: Eu sou senhorita, não senhora! As pessoas esquecem que temos um pronome de tratamento para as pessoas que não senhoras. Outra coisa que entrou em desuso no nosso dia-a-dia! Triste desuso, diga-se de passagem! O outro erro, nem preciso comentar. O fato é: na embalagem da correspondência h...

Comédias da vida (privada)?

Hoje está completando 1 mês e 18 dias que estou vivendo em Sampa! Nesse pouco tempo de sobrevivência aqui pude perceber que em uma das cidades onde tem mais gente por metro quadrado do Brasil, mora a solidão. A exigência de se ter amigos por aqui é tanto quanto ou igual a de se sobreviver: dificuldade grau 9, e olhe que sou comunicativa, caso contrário não teria feito comunicação social; escolheria biblioteconomia ou qualquer outro curso voltado para algo que não precisasse se comunicar. Deixei cerca de trezentos amigos em Tubi City - nome "carinhoso" para JP - minha cidade natal, aqui conheci muitas pessoas já, mas surgem os problemas: tempo! Fora o costume de se fechar no casulo - principalmente em dias de chuva - alguns paulistanos demoram a vida para ter tempo para sair, conversar ou até visitar as pessoas. O que não ajuda muito, também, é a imensidão da cidade. Trinta minutos de caminhada aqui é perto, em Tubi City era a eternidade. As pessoas me ligam sim, mas combinar ...

Entre um cigarro e um gole frio de café...

Hoje recebi um email de minha amiga-divisora-casa, sobre uma manifestação anti-corrupção, para expulsar Sarney da nossa famosa e ardente cúpula do politicagem. No respectivo citavam os caras-pintada... Enfim, depois dessa citação, só mesmo as reticências. O que fizeram essas criaturas? Foram eles que puseram o engomadinho Collor para fora da República? Seria muita, mas muita inocência pensarmos assim. Desde que o mundo ainda era a Pangéia, que o Brasil era Brasil, que tenho conhecimento da História do nosso país-continente, que sei de uma coisa: quem move quem está no poder é quem, também, nele está. Não se iludam durante os anos em que não há eleições! Nem muito menos, durante as mesmas. Tudo continua como era dantes no quartel de Abrantes e assim será! Porque, ao invés de fazer esse manifesto em negro, não se grita e param a Paulista, ou que avenida principal seja, para termos melhores condições educacionais, sociais, de saúde e melhorias de emprego, melhor repartição do dinheiro púb...

Acima das nuvens cinzas

- Ah, já entendi... - O que? - Dá aqui o dedo. O homem pegou o polegar de Nonô e emplacou-o na almofada negra, cheia de tinta escura, enfiando-o depois no papel. - Pronto! Agora é só esperar que a justiça lhe seja feita. Nonô ficara na cela imunda, cheia de escatologias submersas e subliminares, intrínsecas àquele mundo que ele chamava de Babilônia Perdida. O polegar borrado com a tinta negra, formando o desenho de sua identidade, onde ele não sabia se jaz sua personalidade, ou seus descaminhos. Como saber do que não se tem idéia? Ao lado, Abreu lhe perturbava com a gaita, na frente Jurubeba sussurrava e choramingava o leite derramado, o cubículo lhe apetecia o estômago por vezes sacudido pela fome e, depois, vinha-lhe a desinteria escorrer-lhe pelas entranhas. - Homem, para com essa porcaria. O velho parava e colocava a gaita no chão, olhando-a como se desejasse os seios fartos de uma mulher jovem. Há muitos anos, Nonô pensava se não seria melhor ter voltado para a cidade em que nasc...

Este blogger não parou... Eu juro!!!

Gente, Se alguém lia ou lê este blogger, saiba que ele não parou! Mas, muitas coisas aconteceram desde a última postagem, o que me fez estagnar um pouco a imaginação e a criatividade. Resumindo os passos derradeiros: minha amiga Lorena Xuxu saiu do emprego em que estava em SP, indo para uma editora e me passou para a vaga dela. Resultado, vim parar em SP (aquela cidade que dizem não dormir nunca!) Pura balela! Os ônibus param meia-noite e o metrô também, então você só tem uma opção: táxi! Que se torna inviável para uma habitante que não ganha muito, como eu. Mas, eu AMO essa cidade, impossível não amá-la. Então o conto que vem a seguir, se chama: Acima das nuvens cinzas. Até a próxima postagem! Beijos e Abraços paulistanos, sem gripe suína! Ivna Alba

Antes de ontem...

Na sessão de terapia: - Como foi sua infância? Breve pausa. Iniciava-se uma série de palavras pronunciadas com conexão, mas balbuciadas, até desatar no mais profundo chôro. - Minha infância foi muito feliz. Acho que não houve época mais feliz em toda minha vida. E dentro do âmago era consciencioso que não se deve chorar por algo alegre, contudo a vaga lembrança de que se soube assim, por alguns anos, trazia aos olhos uma repleta gama de reminiscências líquidas. Gotejavam não apenas as proezas de subir na árvore que se dizia Pé de Manga Baixinho, como liquifaziam as tormentas e as angústias de ver o antes de ontem ficar tão atrás e não se tornar o amanhã possível de seus dias. As acerolas colhidas pela manhã em seu xale neblina, a foto sentada no colo da mãe que parecia acordar naquela hora, as pancadas da massa do pão na mesa pela tardinha, as brincadeiras com a terra, com as plantas e os ternos e eternos carinhos da mãe - inexplicável e afável sintoma de recordações felizes e admiráve...

Catamira

Esquálida! Assim poderia ser descrita Catamira. Definhando todo o dia mais um pouco, em todos os sentidos. Catamira era um gênero que não poderia ser chamado de mulher, não parecia haver sexo em sua pele, nem em sua vida, muito menos em seus genitais. Criatura de quarenta anos e poucos, morava em um quitinete de cozinha, quarto e um resto de sala, onde não recebia visitas e o fogão estava quase sempre desligado. No banheiro de azulejos brancos e com lodo entre o rejuntes, acumulavam-se os resquícios de vísceras do trabalho enfadonho e demente. Débil enfermidade de pulsações: em seu ventre eram as únicas oportunidades de se sentir viva, vez em quando, depois do almoço. No mofo a pouco e monótona conversa do fim de dia. A solidão enternecendo o colchão furado e umedecido pelas goteiras, nos dias de inverno. Catamira não sabia o significado de muitas coisas e pouco relutava com isso - talvez por desistência, ou por insistência em não querer se atormentar por algo que estivesse há tão long...

De amor e de bemol

Vês, minha pequena: Eu me perdi em ti e tu em meus braços. Escuta o barulhinho da luz do Sol e me diz Fala baixinho, mas diz que fui eu que te criei em mim. Deixa-me segurar em tua mão e sorrir. Lembra daquele bemol que fiz em teu modo menor. Correrei aos teus apelos, Mergulhando em teu pacífico Mas, já será tarde... No meu amor sustenido O teu tom desafinou no meu. A harmonia que eu fiz você esqueceu. O nosso arpejo nunca mais se encontrou. E do meu allegro fez-se o adágio Enquanto no teu scherzo esqueci Os nossos laços. Ivna Alba

O Leão está solto nas ruas...

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... por descuido do seu domador!!! "Bob Charles" é um gênio e tem bicho pra tudo nesse mundo! Ivna Alba

Angelo Alba

Eu quero ter um filho! Peguei-me pensando dias atrás, depois que conheci Você! Eu quero ter um filho, que se chamará Angelo - assim como meu bisavô - sem acento mesmo, o tom forte no A virá com sua personalidade, que não serei eu a ditá-la. Angelo será uma criança linda e feliz: olhos azuis e grandes, cílios pretos e longos; muito branquinho, macio, cabelos negros lisos e um sorriso de encantar o mais duro dos seres humanos. Serei sua mãe que chorará ao vê-lo deitado e quietinho em meu colo, ao nascer. Ele sairá do meu ventre, forte, viçoso e sadio, porque obviamente eu me disporei a passar 9 meses sem fumar por ele, para que nasça perfeito. E gerarei um ser perfeito, forte e rijo para esse mundo insano. Ele apreciará as artes, a boa música, o teatro, o cinema, gostará de beber, se quiser fumará, não sei se desejará provar maconha ou algo do tipo, mas eu quero que ele crie a personalidade dele, e sempre que precisar eu lhe direi: "Certamente, isso será melhor, meu filho!" Ang...

Santo MP3!!!

Eu agradeço todos os dias ao homem ou a mulher santo/a que criou o MP3! Vocês, leitores, podem até pensar: - Mas, já faz tempo que isso existe. Claro que sim, já tive inclusive um de 128MB, mas a tecnologia é outra coisa bendita. Investir dinheiro em roupa? Sapato? Cabelo? Unha? Depilação? É bom, vez em quando, mas juntar o seu vil metal e comprar aquele celular com tudo que você quer, de mais ultra, super, power, hiper moderno é a melhor coisa que existe, em minha opinião. Pelo menos para mim, que adoro ficar repetindo uma música que amo. Coisa que a maioria das pessoas reclama horrores. Esse ERA um dos meus maiores defeitos, para as pessoas que conviviam comigo - minha irmã que acompanha este blogger vai ratificar com muita veemência, ao ler isso aqui - mas que graças ao MP3, isso deixou de existir. O máximo que pode acontecer é a audição ficar um pouquinho estragada, mas fazer o que? Tudo tem um preço. Não tem nada que pague você poder andar pelas ruas e não precisar ouvir certos so...

O romper dos sons

- Onde? - Naquele restaurante chinês, no segundo piso do shopping. - Aquele da semana passada? - É. Tá bom para você? - Bem, se você quer lá, pode ser sim. - Quero saber se fica bom para você. - Fica, mas tem que ser uma hora cravada, tá? - Tudo bem. Pelo menos, você conseguiu se decidir em algo. - De novo, Ana Lúcia? Começou cedo? - Não, não. Foi apenas uma observação... Nada demais. - Tá certo. - Até mais tarde, Ângelo! - Até, meu amor! ******************************* Ângelo Desligara o telefone. Ela havia sido mais rápida que ele, ou apenas os beijos de despedida não fizessem mais parte do cansativo repertório dela, assim como os outros trejeitos carinhosos. Ele deixara beijos ao léu, para que o colega ao lado não suspeitasse que a mulher amada fora objetiva e clara. E foi além, disfarçando um derretimento em formas de juras de amor dela por ele. Botou o aparelho no gancho, arrumou os papéis, o mouse-pad , a cadeira, o teclado do computador, soltou um longo suspiro, constatando que ...

Trague, mas não solte!

Esse título precisa tanto de uma exclamação, quanto preciso de uma paixão hoje. Paixão? Não, eu diria de um amor que seja possível. Não me interpretem tão mal assim. Alguns erram hoje, acertam amanhã e assim a vida é feita de momentos felizes, eternos, ruins e horrendos. Quiçá eu tenha acertado na dose, mas errado o alvo, da primeira vez. E agora? Já se permitiram não amar, alguma vez? É o que pode existir de mais desunamo na vida. E o pior, destrutivo consigo mesmo. Se é para ficar sozinho, que se faça, mas nunca se diga: - Por hoje chega! ou: - Fechado para balanço! Se é balanço que se quer fazer, o faça, mas deixe novas mercadorias entrarem na sua bodeguinha, talvez uma delas faça sucesso e lhe renove os ares, dê a você novas esperanças, lhe faça regozijar um pouco mais a vida e dos momentos felizes e inesquecíveis. Estou deixando que ele me bata à porta dessa vez. Acredito merecer um pouquinho de sorriso, diante de dias tão pesados. E onde fica o trago nessa parte? Exatamente nisso...

Sangrar é respirar

Essa mesma massa, submersa nas suas vidinhas simples, e que se basta, resguarda um âmago que se move freneticamente, diverso de cada um... Igual, porém, ainda sim diverso... Ivna Alba

La donna della fontana

È stanca... La donna della fontana. Ma è bella come la notte in tuoi bracci. Potrai amare questa donna. Ma tuttavia lei potrà sperare checchessia di te... Forse possiamo desiderare le labbra di questo vento Che, allora, ricambierà su' anima... Giuochi con me, donna! Rida con il ragazzo che ama te! Viva, bella! Non hai perche avere con sé tanto brivido in tuoi occhi... Ivna Alba

O Triunfo da morte

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A humanidade lançada às redes do destino inexorável. O temor que se apodera dos homens desde que foi implantada a consciência cristã, no mundo. A sensação de culpa, pecado, vergonha, piedade, misericórdia e clemência. É disso que em uma breve leitura se faz, imediatamente, do quadro de Pieter Bruegel, O triunfo da morte. Don DeLillo, em 1936, já faria seus comentários sobre a obra, datada de 1562, e que se encontra em Madrid, no Museo del Prado. A tela, muitos antes de ser uma esplendorosa arte, amparada pelo Feio e Grotesco, denota uma espécie de Dança Macabra entre a vida e o confronto final com o derradeiro suspiro. É a luta, a batalha que cada um deve travar por todos os segundos em que sente seu inspirar e expirar. Da forma como se observa, pode se destacar o temor e o terror das massas pecadoras, diante a iminência do transpasse, que certamente não era bem acolhido na época. Talvez ele nunca o seja. É remetida constantemente a idéia de destruição, em todas as partes, inclusive no...

Apertem os laços

Esse momento chegou! É inevitável que ele chegue para todos os seres humanos. O que vai diferenciar é o modo como cada um encarará esse aperto, fechamento ou final de ciclos. Lembrando da música , Aos nossos filhos , onde Elis Regina canta com uma das maiores emoções, já vistas na música brasileira: "Quando colherem os frutos, digam o gosto pra mim." O que já está no final, que não se pode tornar um início? O que seria esse eterno prosseguir e retroceder? Para aonde se deve caminhar? Se se não sabe onde chegar, como se pode achar o lugar certo em que se pode jogar as malas e dizer: "Esse aqui é o meu lugar!" Essa busca incessante é extremamente cansativa, mas ainda mais exausta é a procura e o encontro. Há coisas que somente o homem consegue achar sentido. A vida deve sim, ser muito mais do que as convenções que nos ensinam quando pequenos. Só não encontraram ainda o seu sentido maior, e talvez por isso os progenitores enrolem e desenrolem os novelos das histórias d...

Wania

Um frio marmóreo lá fora. Silêncio no banheiro. Pela janela do cômodo se tecia o cinza e os flocos de neve. Pés ebúrneos deslizam e pousam suaves em frente à banheira. A mão delicada de Wania abre a torneira e a água quente desaba lânguida perpetrando todo o vazio. O corpo era magro, flácido, sem nenhum frescor mais da juventude, muito menos atrativos exarcebados pela natureza feminina. Wania era comum como aquele silêncio e o vazio. Sentada na borda da banheira, a carne das nádegas cedia ao peso dos ossos, deixando uma grande marca vermelha. Pernas cruzadas, os dedos dos pés encolhidos, as mãos imprensando os dedos. Ela os prendia até arroxearem, depois soltava; assim podia ficar por horas. Os braços eram finas lascas de pele e esqueleto, algumas marcas de apertões e chupões gravavam sua história por algum espaço de tempo, assim como os seios murchos cediam mais ao pretérito, que ao atrito e as clavículas expontâneas. Wania gostava de cruzar os braços na frente dos seios e apertar os ...

Achados inesperados

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Eco la meraviglia dell' internet! Rodando pela Rádio Uol, que para mim, é uma das melhores coisas desse mundo virtual, encontrei - acredito que seja um grupo - chamado: Rabo de Lagartixa. E desse Rabo achei um álbum de nome: Villa por chorões. Ou seja, quem curte um bom chorinho e o Villa está aí uma ótima pedida. Sim, claro, aqui está o link para quem deseja ouvir, ou descobrir esta oitava maravilha do mundo musical: http://b.radio.musica.uol.com.br/radio/index.php?ad=on&ref=Musica&busca=Villa+por+chor%F5es&param1=homebusca&q=Villa+por+chor%F5es&check=disco&x=17&y=8 Divirtam-se! Ivna Alba

No momento...

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A pausa para o café e cigarros regados a conversinhas para boi dormir da mamãe Joana. Abraços aos que passaram pela Alameda dos Olivais, hoje! Beijos aos que não deram outra opção, a não ser a de continuar sobrevivendo! Ciao ciao, ragazzo degli occhi beli! Ivna Alba

Porque criar no "péntxi" faz bem...

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Mesmo que seja uma bobagem bem boba! Ivna Alba

En la tierra de los malucos cubanos

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Um dia estou cá, sentada em frente ao computador, olhando para este blogger e pensando: - Qual é a do cardápio de hoje? E como não tinha nada para me inspirar, corri para o google imagens e digitei: "Cuba+prédios antigos". Entre as várias artes com o rosto do Che, bandeiras do país, surgiram, obviamente, lindas obras arquitetônicas antigas e comecei a pensar nas pessoas que habitam ou habitaram essas maravilhas. O calor subiu-me no corpo, só de imaginar aquele sol dourado, numa tarde de verão. Pensei nos velhinhos de grandes dentições, as camisas de botão abertas até o peito, os charutos e a música fervendo entre aquela roda de homens senis. E a alegria daquele povo tomou conta da minha curiosidade. O vento abrandou-me o rosto suado. As ruínas sempre me pareceram mais belas que as novas estruturas de concreto puro e espelhos. Claro, modernidade é algo que se aprecia, por ser nova. Acontece até com a escolha dos parceiros. Qual jovem de 20 apreciaria um outro alguém de 95? Pes...

Escrever um drama

Engana-se piamente quem crê ser tarefa fácil escrever um drama. Comédia sim, é mais simples, porque o senso de humor é atiçado, em grande parte, quando se expõe alguma situação ou pessoa ao cúmulo, ou se leva satírico, escárnio, ridículo ou absurdo um desses fatores. Outro ponto: a ironia não nos põe a refletir, a cogitar hipóteses, nem nos provocará um sentimento de querer corrigir o que aconteceu. O drama e o trágico sim, nos comportam essas emoções e sentimentos. Vamos muito além das lágrimas nessas categorias. É algo que induz ao homem ser humano, em toda sua completude. E, quando falo de drama, por favor, não estou citando - porque estas histórias não entram em meu conceito de categoria dramática - filminhos de cachorros lindinhos e de olhos tristes, que passam durante à tarde nas emissoras brasileiras. Falo de uma densidade que existe em Senhores e Servos e Onde Deus está, o amor está também - Tolstói. Cito também a profundidade dos personagens de Beckett em, O fim , O expulso...

O centro do mundo

Na pequena cidade de Tuiutarama vivia uma menina extremamente pequena, gorda, de cabelos castanhos e danificados pela genética. Não era feia de rosto, mas se achava hedionda. Depois de receber uma pedra no centro do crânio e levar vários insultos, para casa, por sua aparência; bem como se entupir de revistas femininas idiotas, o cérebro da criatura pipocou. No que sua cuca fundiu iniciou uma guerra incessante entre o corpo e a geladeira. No início negava a feijoada, a coca-cola, os docinhos, depois passou a negar o arroz. Logo ele, coitado, aquele acompanhante branco e com gosto indefinido. Então, justo o arroz! Depois foram as batatas, cenouras e o coentro. Ela começou a viver de 1/4 de uva. - Uva, porque é comida de rainha! Ela era a rainha? - Rainhas têm cabelos bons, sua estúpida! Gritava a peste da irmã de quarenta anos, que passava o dia inteiro na cadeira de balanço, comendo pipoca e coçando a enorme barriga, enquanto assistia Tv. O cabelo foi para o formol. - É, minha filha, ne...

Música

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A intenção desse texto não é ser grande, nem pequeno, contudo é mais um ponto de vista da senhorita Alba, que um argumento, para você, leitor, que pode ser um antimusical, terminar seus dias gostando de música. Conversando com um amigo, certa vez, ele comentou que achava fantástico ler um texto do Kafka, que agora fugiu-me o nome da memória, e aquelas palavras fluírem, cada vez, de uma forma diferente. Meu caro, isso é o que acontece comigo, ao deixar semitons e tons penetrarem em minh'alma. Bachianas Brasileiras No.3 - 3. Ária (Modinha) Largo: Esse é o nome da música que me fascina no momento. E quem disse que o Brasil só tem futebol, carnaval e mulher bunda? Ele tem muito mais que isso. Pesquise, descubra, vamos lá! Fuce aqueles vinis de papai e mamãe e descubra uma porção de melodias e harmonias que penetrarão em seu âmago e o farão se arremessar no muro dos catatônicos. A música terá esse poder arrebatador de lhe fazer saudoso, ou apático, feliz ou com a maior energia de todas...

Nem tudo é óbvio...

Em minhas andanças pelo mundo internético descobri um lugar fantástico para aportar meu barquinho, vez em quando. Vez que me sentir sufocada demais, Cansada aos trópicos, ou simplesmente livre para navegar, precisamente! Espero que gostem, como eu: http://blog.uncovering.org/ Ivna Alba

Sur le fil

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Algumas coisas acontecem. Mas, outras ocorrem vagarosamente, sobre um fio de tempo longo e preciosamente esculpido de horas intermináveis. Essas, sem sombra de dúvida, são as piores. Em geral, são aquelas que passam despercebidas aos olhos. Fora o último dos nove filhos do homem de bigode farto, que morara na casa vermelha de esquina com a avenida principal. Bairro quase tranquilo, vida meio pacata, crianças na varanda, no jardim, nas telhas quebradiças. Pé engessado. Começou a vida normalmente, estudou regularmente, sem precisar ser um aluno brilhante, recebeu carinho, amor de quase todos os lados, trabalhou em pequenos ofícios para juntar dinheiro e comprar uma caixa de ferramentas nova, para o pai. No semblante fechado, os olhos permaneceram estáticos com o presente. O bigode não tremelicou com a gargalhada costumeira, ao se satisfazer com algo estupendo. Nada! Apenas a inércia nos gestos e na face taciturna do pai. - Venha, Alceu! Seu pai vai falar com o vovô, agora. Dez anos. Os o...

Efêmero, insuportável efêmero...

Estava meu pensamento circulando por muitas zonas livres este dia, quando repentinamente surgiu-me uma súbita idéia agoniante: mais um ciclo está se fechando para mim. E, creio que não só para mim, mas para muitas outras pessoas que conheço. Pouca idade, mas uma certeza: o tempo está me tragando, me consumindo cada segundo mais e cada dia me engolindo com mais e mais voracidade. "Mais"! Esta é a palavra que se tornou muito comum. Hoje todos querem "mais": mais conforto, mais vida, mais saúde, mais dinheiro, mais comida, mais roupa, mais emprego, mais casa, mais carro, mais velocidade, mais amigos, mais família, mais amor, e no final a única coisa que se tem é "menos". E o principal: temos muito, mas muito "menos" tempo. Esta semana não passou apenas trotando, nem galopando, ela passou voando, literalmente voando a zilhões de quilômetros por hora. E nem bem amanhecia outro dia, a sexta já dava o sorriso mais terno, para quem esperava a hora de che...

Le moment Hardy

Mer mon cœur pèse des tonnes et mon corps s'abondonne si léger à la mer la mer pleure ses vagues qui ont un goût de larmes et s'en vont, éphémères, se perdre en la terre se fondre à la terre Mer magique, originelle dans son rhythme essentiel le ventre de la mer vous garde pour vous jeter dans un monde desséché qui n'est fait que de terre où je n'ai jamais su ce qu'il faut faire et la vague danse et joue puis se brise et la mer tout à coup devient grise mon amour est si lourd à porter je voudrais doucement me coucher dans la mer magique, originelle dans son rhythme essentiel je voudrais que la mer me reprenne pour renaître ailleurs que dans ma tête ailleurs que sur la terre où sans mon amour je ne peux rien faire Para os que apreciam a Françoise Hardy - Mer. Bela música: arranjo, harmonia, letra e voz. Tudo é perfeito nesta música! Ivna Alba

Modigliani

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"Quando descobrir tua alma, pintarei teus olhos!" Não é necessário falar sobre esta pintura (Retrato de Jeanne Hébuterne (1898 -1920), Common-Law Wife of Amedeo Modigliani. 1918. Oil on canvas. 92 x 60 cm. Private collection), a obra por si só já debate e dialoga com o espectador, que assiste seu fulgor e esplêndida concepção. Amedeo Modigliani, italiano e judeu. Viveu intensamente seus 36 anos, nas artes, bebidas e drogas (ópio). Para a época, traços difíceis de se compreender, de gênio rebelde e orgulhoso, não se submetia às pinturas encomendadas e se dedicou durante muito tempo há escultura, também. A sua série de nus se iniciaram por volta de 1914 e tempo depois, ao expôr em galeria, teve que ser retirada por "afetar a moral". Teve uma filha com Jeanne Hébuterne - esposa e amante - a quem pintou inúmeras telas. O filme, Modigliani , dirigido por Mick Davis - 2004 - possui bela fotografia, para quem gosta de diálogos o filme os tem, para quem gosta de uma persp...

Esquivo

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Ele tinha olhos furtivos! Lindos, porém furtivos. Nada que o calor da tarde não os fizesse mais estagnados e taciturnos. Quase um compasso de balada, suas piscadelas se tornaram. E nem bem anoitecia, corriam pelas calçadas e metálicas avenidas. Voltavam, à vida, aqueles olhos. - Não há necessidade de se manter estático. Rotativa! Rotativa! Rotativa! Rotativa! Gritava e saía em disparada, atravessando carros e multidões. Quem se atreveria a segurá-lo? Pelo braço? Nunca! Pelas mãos? Jamais! Absolutamente pelos olhos: apertadinhos, de cor negra e fugidia; impossível ver sua pupila em tão absorto ébano. - Destrua aquelas flores que te dei, Carla! - Por quê? - Por que não eram para ti! - E para quem, então? A gargalhada frouxa em meio ao rush, completamente insano e desvairado. - Dá tua mão! - Não! - Só para atravessar esse trecho da rua... Movimentada. - Vou para o outro lado. - Mas... - A primavera acabou! Seguiu o leste, entrou no primeiro bar que achou, sem olhar para trás, e a rua se f...

A menina que comprava livros...

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I PARTE Aos dois anos, ao ir com o pai à livraria, balbuciou: - Ubiladeilo abalelo! O pai, surpreso com aquele novo dialeto, olhou para um livro, para onde ela apontara. - Ah! Lindo, não filha?!? - Ubiladeilo abalelo! Uma capa azul, com um quadrado branco ao centro, e um desenho terrível de um brigadeiro amarelo, contariam a fantástica saga de um brigadeiro, que junto a beijinhos e tortilhas, tocariam o terror, em uma festa infantil. Tudo porque não queriam ser digeridos e jogados dentro do sanitário, que logo desembocaria no oceano mais perto. O pai, puxou a filha, carinhosamente, para a prateleira de Goya, Caravaggio, Rembrandt, Manet, Turner, Modigliani, Gauguin e sacou da mais alta um volume grosso de Portinari. Sentou-se à pequena mesa e começou a folhear a obra. Sorrateiramente sua filha se desprende daquelas pinturas e corre à seção infantil e volta, falando em um tom sério: - Ubiladeilo abalelo! Ubiladeilo abalelo! Ubiladeilo abalelo! Ubiladeilo abalelo! Neste exato momento, o ...

Dueto de separação

Ela parou e não lhe disse palavras. Abriu a porta do quarto como se o aguardasse falar “Espera”, mas não houve nenhum sussurro proferido pela voz dele. Apenas um vazio seguindo-a, enquanto andava com a mala pronta e o vinco de preocupação na testa. Era posta uma chama que ela acreditava nunca ser extinta. Ouvia os passos dele lentos a seguir os seus e o silêncio que se interpusera naquele pequeno espaço físico. Ivna Alba

Fragmentos, repartições e partituras

Talvez não sintas falta agora, mas um dia terás muitas. *** Espera mais um pouco, resta um bocadinho de tempo para dizeres, ou não, o que pode significar uma eternidade em tua vida. *** -Calhorda! O grito se fez a plenos pulmões dentro dela, escapando todo o ódio ruminado durante dias. -Calhorda! E repetia em um tempo mudo de todas as desgraças e flagelos. -Calhorda! Choramingou a alma, derretendo em uma tristeza profundamente. -Por que o mundo só gira em voltas contrárias e não, nas que deveriam acontecer? *** Abriu a caixinha de surpresas. Lá estavam as cartas, os mimos e as fitas. Recolheu-os e revisou todos, um a um, tentando desvendar como se fizeram e desfizeram dentro de tanto tempo. Não houve respostas. Ao contrário, cada vez que desatava um nó, as horas se tornavam mais densas e incontáveis. O que desejava? Ah, ela desejava tanta coisa... Ivna Alba

Ela, ela mesma e o vazio

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-Psiiiiuuuuu! Não conta ainda, não! -Por que, não? -Por que não, oras! -Mas, tá difícil esconder! Não dá mais, não dá mais, não! -Pare de se atormentar, porque tudo tem a hora certa de ser e de caminhar! -Mas, dizem a boca pequena que cada um faz a sua hora. -Isso é verdade. -Então? -Então, aguarda, criatura! -Quanto tempo mais? -Não sei... não sei mesmo... -Vida bandida, destruidora de nervos, esperas mais que necessárias, isso tudo mexe demais comigo e o pior que só o nada anda lá fora. -O nada, não, mas o desejo de que logo chegue o próximo amanhã. -"E poder assistir ao entardecer e saber que vai ver o sol raiar". Se diluiu a cena, ao longe, durante o longo caminho, o bar de portas abertas e uma luz amarelada preenchidas pela estrofe repetida e a espera de mais outro diálogo sobre o tempo, as horas, o som e os amores, sendo estes perdidos ou não... Ivna Alba

O que eu fiz com a minha vida!

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Amigos são maravilhosos, principalmente quando nos proporcionam encarar a realidade nua e crua. Dedicação da Tirinha: Xaxá para Ivna. Ivna Alba

Promessas de Ano Novo

A TERRA PROMETIDA Toquinho e Vinícius de Moraes Poder dormir. Poder morar. Poder sair. Poder chegar. Poder viver Bem devagar E depois de partir Poder voltar. E dizer: este aqui É o meu lugar. E poder assistir Ao entardecer. E saber que vai ver O sol raiar. E ter amor E dar amor. E receber amor Até não poder mais. E sem querer Nenhum poder, Poder viver feliz Pra se morrer em paz. E quem não faz um plano assim? A meta do momento é ser feliz, completa, inteira e totalmente feliz. Sem se importar com o que vem amanhã ou que já passou ontem. O lema é viver! Viver sem vergonha, amar sem ter porquê, apenas pelo fato de sentir o peito preenchido de um bom sentimento, de uma emoção, mesmo que frustrada, mas que provará que há vida neste corpo. Saravá, Vinícius! Saravá, Tom! Saravá, Toquinho! Saravá, Cartola! Saravá, Badinho! Saravá, vida minha e de tantos! Feliz Ano Novo 2009, para todos nós! Ivna Alba