Ele tinha olhos furtivos! Lindos, porém furtivos. Nada que o calor da tarde não os fizesse mais estagnados e taciturnos. Quase um compasso de balada, suas piscadelas se tornaram. E nem bem anoitecia, corriam pelas calçadas e metálicas avenidas. Voltavam, à vida, aqueles olhos.
- Não há necessidade de se manter estático. Rotativa! Rotativa! Rotativa! Rotativa!
Gritava e saía em disparada, atravessando carros e multidões. Quem se atreveria a segurá-lo? Pelo braço? Nunca! Pelas mãos? Jamais! Absolutamente pelos olhos: apertadinhos, de cor negra e fugidia; impossível ver sua pupila em tão absorto ébano.
- Destrua aquelas flores que te dei, Carla!
- Por quê?
- Por que não eram para ti!
- E para quem, então?
A gargalhada frouxa em meio ao rush, completamente insano e desvairado.
- Dá tua mão!
- Não!
- Só para atravessar esse trecho da rua... Movimentada.
- Vou para o outro lado.
- Mas...
- A primavera acabou!
Seguiu o leste, entrou no primeiro bar que achou, sem olhar para trás, e a rua se fez imensa, gigante, avassaladora, catastrófica, uma terrível quimera que a engoliu, tragou, mastigou, triturou e jogou, por entre os dentes, a chave que levava sempre consigo.
Olhos furtivos e negros boiando na límpida e tranquila aparência do líquido, no copo.
Ivna Alba
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