quarta-feira, 17 de julho de 2013

Carlos e Sofia

Uma tarde dessas em que se olha como o tempo caminha lento, reencontrei Carlos e Sofia. Há um tempo tentava resolver seus problemas, mas abandonei. "Não sou mais a solução para vocês!" E dei-lhes as costas. Ficaram mudos, sumiram, escafederam-se em um mundo totalmente em branco para mim.
E nesse mesmo tempo, que foi lento, reencontrei-os cálidos, afundados em um ponta esquecida, mas não menos viva. "Carlos e Sofia merecem um final, que não seja feliz, extraordinário, mas que tenham suas soluções, fascinações e um fim digno da vida de dois personagens que adormeceram, amadureceram e brotaram implacáveis!

Ivna Alba

terça-feira, 2 de julho de 2013

Desatamos nós

Um sopro teu esconde nossos desesperos.
Uma partida tua recobra em minhas histórias que nascemos sós e tão sós nos despediremos. Para que criamos nós se serão desatados?
- É o medo, Dalma... É por medo.
A mulher pegou a trouxa com cinco pares de vestidos encardidos, pôs nos ombros e disse rangendo os dentes:
- Aos diabos, teu medo, vagabundo!
Desta vez, Dalma não tinha a fúria nos olhos, muito menos largara a porta aberta.

Ivna Alba

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Chica Bregídia

Cada ser humano carrega nas mãos o dom de realizar ações perfeitas e incorrigíveis. Vale escolher qual linha delas seguir.
Existia na cidade de Ourives Velho, uma senhorinha negra, esquálida e de olhos sonolentos, lenço nos cabelos e pés dez para as duas, caminhando em ritmo de valsa. Quando tinha cinco anos, gritaram em meio à fazenda:
- Semo livres!
A mãe chorou com ela ao colo na cozinha e ninguém soube o que fazer dali em diante. A liberdade cobra o preço de se ter e do que se fazer com ela, quando esta lhe é tomada desde sempre.
Chica aprendeu tudo que se poderia aprender, mas foi ao peso do ferro de passar que calejou as linhas das mãos finas e frias. O gosto pelo calor do fogo, o fogo na brasa, a brasa no carvão. As tramas saltavam e os linhos e fazendas ganhavam brilho e nova vida ao toque do ferro de Chica Bregídia.
Não queriam saber de léguas, seus clientes.
De posses, ou não, ela cobrava de acordo com os dobrões que cada um tinha no bolso; o importante era trilhar o objetivo que escolhera com perfeição.
Não existia alguém na vida que engomasse melhor que ela e de nada mais precisava na vida, a não ser o fogo da lenha, fogo que escondeu do coração e se transformou em texturas ardentes.
Enfim, um dia a linha de Bregídia se apagou do carvão.

Ivna Alba