segunda-feira, 20 de outubro de 2014

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Penso nos sonhos que tive...
Hoje, tudo parece uma ilusão tão real.

Ivna Alba

Monólogos I

Eu, criança morna,
Que ao júbilo de tua azáfama
Deixei escorrer, em teu último copo, a vida.

Eu, moça fervente,
Que dos teus simples olhos castanhos
Apanhei as alegrias e
Compreendi os anseios.

Eu, senhora pálida,
Que da tua cativa coragem
Olhei, no fundo do tempo, as horas.

Bradei aos ventos, isentos de paz.

Ergue, vida! Contempla tua crua realidade.
Varre das tuas escadas
A água do meu caudal que libertaste!

Ivna Alba

domingo, 21 de setembro de 2014

Oh! Senhora,

Eis que me afasto e me nego,
Que me arrebato e me entrego.
As poucas nuvens que comovem esse azul infinito
Transcorrem em véus e grinaldas
A tarde plácida e morna em teu colo.
És a vida e a canção,
A poesia robusta, agora quase desfalecida,
És o meu caminho.
Vim pelo teu sangue.
Nasci do teu amor!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Tempo

Já se foi a aurora, querida!
Já se foi o vento e com ele as rosas.
Já derramou o vinho na borda do linho.
Já se perderam as perguntas em devaneios tardios.
Já se foram os poetas.
Já se foram as dores de corações partidos.
O tempo... nele reside a grande resposta que encontramos ao final de tudo.
No infinito, tudo se torna horizontal.

Ivna Alba

domingo, 13 de abril de 2014

Bovinos

Mediano de dor, amor e vida. Há em certos homens a mais pura habilidade de ser humano medíocre,  a concepção de vir à vida com rosto, corpo, peso, altura, inteligência e alma dotados do parâmetro mediano. Não,  nunca hão de fugir, escapar ou se atrever a gritar contra. Por que ser mais, se a vida já pode ser isso? E é nessa leva de rebanhos adormecidos que o sol nasce, morre e o mundo perpetua sua carapaça inerte e bovina.

Ivna Alba

domingo, 16 de março de 2014

Bilhete para Alícia

E seriam fracos e descontentes meus beijos, Alícia, se não fossem para ti. Seriam inertes e desfalecidos meus abraços, se não rodeassem teu corpo e seria totalmente vã minha inspiração, não fosse tua existência. Meu mundo é tua raiz nesta vida, é teu paraíso em meu calvário, tua lua em meu agreste sereno, teu compasso em meus ritmos de dois por dois.
Em tua casa, ainda, repousam meus sonhos.

Ivna Alba

sexta-feira, 7 de março de 2014

A carga

Josualdo. Mas, pode chamar de Jó.
Carregando no peito as condecorações de uma noite violenta de cachaça, no dorso as pétalas de uma cerca de arame, Jó se levanta às quatro e meia da manhã e tomando um amargo café, dá uma estilingada de um cuspe rançoso e longínquo, daqueles extensos.
Era a bile encharcada de desilusões.
Seguindo cambaleando pelo único quarto, apanha a camiseta desbotada - a mesma do ano passado - e parte rumo ao seu destino bestial.
Já parte o céu o sol do meio-dia. Entre ruelas e gigantes de mármore, concreto e vidro, o animalzinho percorre seu mundo farejando papel, lata, garrafas e vez em quando encontra neste mundo onde comer e beber por um tostão.
Jó se acha vital para o mundo de um mar gigante, o oceano apenas lhe regurgitaria, não fossem tantas marés para se preocupar.
- Mais um aqui, chefia.
- Esse não é dessa leva. Que tá fazendo aqui? Identificação?
- Não sabemos ainda... Vou mandar o Baiúca averiguar. Oh, Baiúca, chega aqui!
- Não, Mendonça, deixa quieto. Manda pra vala sem queimar tempo de ninguém. Se tivesse algum chegado já tavam aí chorando e gemendo no vale de lágrimas.
A gargalhada ecoa, os mortos fedem e Jó de besta passou a anônimo.
Assim como veio ao estábulo, se foi.

Ivna Alba

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dos tempos...

Excluamos do indicativo todo e quaisquer restos do futuro do pretérito.
Nele residem todas as frustrações.

Ivna Alba

Carlota Bareghia V

- A gente acha que tudo e todo mundo é bom, quando vê de baixo para cima. Mas, ao ver na mesma altura, as coisas se tornam bolhas cinzas de sabão e explodem. Assim é esse mundaréu de coisas, Seu Alceu... Assim é o mundo e suas pessoas de mente e corações bloqueados. O mundo sempre foi e será dos medíocres organizados.
Enquanto falava baixinho e entre os dentes, Carlota colava vagarosamente o zap na testa do Alceu, que não fazia nada, absorto diante tantos dizeres profundos, vindos de uma moça cheia de vida e rellena de desilusões.
Não é que a italianinha ganhara a negra novamente?

Ivna Alba

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Matrimônio

Aceita-me e te devoro!

Ivna Alba

Carlota Bareghia IV

Existia um encantamento naqueles olhos grandes redondos e castanhos. Duas contas imensas de pureza sondavam os pés da mãe, do pai, dos tios e tias, enervavam as rugas ordenadas dos tornozelos dos avós e com suas mãozinhas repetia os movimentos de pulinhos com a boneca de pano.
Na turbulência da reunião familiar, ninguém parou para falar com a criança que olhava para tudo e já sentia plantada em sua realidade as perguntas:
- Quem sou? De onde venho? Para onde vou?
Carlotinha, ou melhor, Titinha não entendia o homem, e dali a pouco não entenderia o mundo.
- Uma mescla de bagunça dos diabos!
Gritava e socava as poucas mudas de roupas dentro da mala. "Aos malditos que moram nesta casa de misérias, uma vida de muitas calúnias".
Batera o portão da quarta pensão, onde se enfiara aos dezesseis anos, e já estava amarga demais para chorar por falsos e medíocres.
- Aos diabos, corja dos infernos!

Ivna Alba

Carlota Bareghia III

Como o fel mal tragado de um cálice de falso valor, ela abriu com os dedos sangrando a pouca carne que restara em seu coração roto e disse-lhe:
- Ainda te dou vinte contos de réis.
Ganhara em troca pouca consideração e, ao menos, um ombro para encostar nas horas de solidão completa, a cabeça de madeixas grisalhas.
No fim, o que julgamos ser a vida?

Ivna Alba

A construção do fim

Um bloco de notas e o pensamento vazio de você!

Ivna Alba

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Carlota Bareghia II

Apalpou o sonho com as próprias mãos. Sentiu, cheirou, bolinou, fez amor com ele, mas tão bem amanheceu, ele largou o berço dourado que ela preparara e se foi. Dali, vieram as tempestades e Carlota Bareghia que um dia fora feliz, deixou de acreditar nos dons, amores e sonhos velados.

Ivna Alba

Carlota Bareghia I

Com seus ares de graça ela veio vindo, quase que esvaindo, pulando cercas e obstáculos maiores. Antes, a rapaziada achava graça, mas bastou Carlota viajar e passar vidas e séculos longe de seu antro, que cada qual virou desgraça e daquilo tudo apenas a fumaça tinha a mesma cor que outrora.
Só então Carlota descobriu que o seu trigo era, na verdade, joio.

Ivna Alba

Àqueles que a condenam

Minha cidade é feita de concreto.
Reto,
Obtuso,
Discreto.

Ivna Alba