segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A nostalgia do final de ano

Chegamos, novamente, em dezembro.
Para mim, o melhor mês do ano e por um motivo apenas: a época da renovação das ideias e de si. Cada vez que o insuperável mês derradeiro invade a folhinha do calendário, tento sentir o "cheirinho de natal", de que minhas irmãs tanto falavam, quando éramos pequenas.
Eu lembro de tantas coisas de dezembro: do Natal, quando meu avô era vivo, dos inúmeros presentes, da árvore que minha mãe armava no canto da sala - abaixo do relógio de pêndulo, que eu tanto amo - da emoção (quando cria em Papai Noel) de esperar chegar a manhã do dia 25, e abrir os presentes que o bom velhinho me deixara.
Contudo, não vou mentir que o revéillon só veio ter um sentido mais forte em meus dias, depois que deixei de passá-lo ao lado da minha família. Para mim, os 10 últimos segundos são os mais fortes da vida, é onde tudo acaba e começará, se se começar. Entretanto, é o instante final de tudo que passou, de tudo que morreu, de tudo que se foi, que aconteceu bem ou mal, mas houve. Como podemos ser tão encantados e desencantar o universo de modo tão subliminar?
Apesar de triste, o 12, para mim possui inúmeros significados, tão abrangentes, que prefiro não citá-los no momento, porque além de um instante em que toda a alma me dói, reflito que envelhecerei mais um ano. E se por um acaso nos próximos 365 dias eu não fizer valer a minha vida, de que me adiantarão mais milhões de segundos?
Nesse dezembro eu espero respostas, terei que tomar decisões, precisarei seguir adiante com coisas que, talvez, nem tenha mais forças, e por isso mesmo terei que tê-las.
E sabe? Uma coisa eu adorei neste ano de 2009: foi saber onde cometi erros e, além de admiti-los, ter a consciência de que realmente aprendi com aqueles.
Anteriormente, eu os conhecia, mas sabia que podia passar sem sentir.
E ratifico: como é bom essa nova sensação!

Ivna Alba

domingo, 22 de novembro de 2009

Rapsódia

E na lógica que as cores e suas ausências lhe inventaram os amores, ela fundou sua vida em sonhos de arco-íris.

Ivna Alba

Quando não se pertence mais a nenhum mundo

Olhava pela janela. O mundo lá fora estava da mesma forma que antes, ou seu modo de ver as coisas havia mudado completamente?
Existia algo de muito estranho, uma sensação de aversão e, ao mesmo tempo, de horror. Os que nele se reconheciam, não o faziam mais, e a frieza começara a invadir-lhe o peito, a alma, os segundos e as horas de vida.
Morder o fruto não lhe deixava a boca cheia de saliva, como para digerir os problemas, as lágrimas não lhe vinham, e se acontecia, eram poucas as que escorregavam faceiras de seus olhos.
Mundo, tão diverso, vasto e distinto mundo de coincidências, pequeninices e mudanças repentinas.
Assim, como de forma desapercebida, ele passou por aqui, deixou suas pegadas, que a brisa levou consigo em seu seio transparente e com cheiro de mar.
Inundou-me completa e vivaz.

Ivna Alba

sábado, 7 de novembro de 2009

Indícios do beijo roubado

Como se não bastassem os vinte anos, sem ninguém ao redor, Catarina inventou de recolher em seu baú de músicas e histórias sofridas, dezenas e milhões de timbres em modo menor. Espalhou-os todos no chão de sua sala, com piso de taco envernizado há pouco tempo e precipitou-se em lágrimas e gargalhadas convulsivas, relembrando de cada minuto e segundo auspicioso da vida.
Como se já não coubesse dentro de si, tamanha reconstrução de vida, casa, amigos, família, emprego, mas principalmente, o refazer dela mesma. Tudo foi somado, calculado, refletido e bem pensado.
Não! Catarina nunca faria algo do tipo. Pensado? Mas, naquela tarde de 17 de julho, ela fez. Planejou as páginas em branco de sua mais nova obra, apontou todos os grafites e esferográficas, desembolsou meia dúzia de taças de vinho, acendeu o charuto do pai - cubano legítimo - e pôs tudo para fora: seios, pernas, coxas, ombros, costas, pélvis, pênis, mãos, dedos, pés, joelhos, pescoços, nucas, até chegar à boca. Ao lado desta, um sinal da candura e disfarce de suas intenções.
Ela queria, intensamente! Mas, onde havia tal coragem para pegar-lhe o tesouro escondido no recanto daqueles lábios pequenos e finos?
Afastou-se andando taciturna, enquanto a Nara dizia sussurrando levemente:
- Eu amei. E amei, ai de mim, muito mais, do que devia amar!

Ivna Alba