Opium day
Não me perguntem quantas vezes eu esqueci, mas quantas fui esquecido.
Oliver Brast
E o sol se pôs terreno, humano, avassalador e terrível naquela tarde de primavera. Duas horas da tarde, duas horas da tarde! Bradava o domador de cães, bem no meio do jardim. A menina de vestido branco esgueirando a fonte e sentindo o cheiro dos crisântemos brancos... Não deveria ter mais de nove anos.
- Audácia sua ter vindo aqui! – Ouvia-se a voz da cozinheira Martha, enquanto punha a chaleira no fogo.
- A lenha, vá buscar a lenha, Anthony!
Oito horas da noite o jantar estaria servido. Calêndulas, rosas amarelas, não jasmins, cortinas de veludo azul marinho, caindo do teto aos pés de Anne. Ela teria que cantar aquela noite, apenas para agradar o noivo que viria da Irlanda.
- Os negócios... Ah, os negócios, Anne! Você sabe como são. Se eu não estiver presente, aqueles porcos não andam com o trabalho.
Do carvão dos negócios, o noivo ficara com o relógio de ouro e dera como brinde o anel de noivado para ela, de diamante.
A menina de vestido branco sorria para Anne durante o jantar.
- Você não soube? Os alemães se refizeram e dizem até que há a conjectura de uma nova potência mundial.
- É um direito deles, por que não?
- O senhor acha mesmo que isso pode nos levar a bons futuros?
- Pense em toda a humilhação, a Alemanha ficou completamente devastada...
Toda aquela discussão e ela, muda, se retira da casa. Uma fita branca voa até suas mãos, continuando o caminho das escadas, fonte, jardim, labirinto, floresta e vida.
Não mais uma fita, um corpo branco estende-se em sua frente, precipitado da balaustrada acima de sua cabeça.
O sol levanta-se venusiano.
Ivna Alba
Comentários
Eu ando tão fora da vida. Fora de tudo.
Vou dar o fora desse buraco e voltar pra esse mundo, prometo.
Ps.: ficou sensacional o novo layout, parabéns.