Como é a vida de um artista? É um matiz de cada parte de nossas vidas. Não se poderá, jamais, comparar os pensamentos, as criações, idéias, os sentimentos, sofrimentos e as alegrias de um artista com de outras pessoas, embora todos sejamos iguais. O modo de ver o mundo de Flávio Roberto Tavares de Melo é isso, e vai muito além destas linhas, aqui escritas. Morando em um lugar extremamente tranqüilo do Altiplano, ele abriu as portas de sua casa, do seu ateliê e de sua alma de pintor. Com muita simplicidade e um sorriso reconfortante, mostrou-nos o ambiente de suas criações, suas obras, que estão espalhadas por todos os lugares da enorme casa e, lógico no próprio ateliê. Parecia meu primeiro contato com as artes. Ele mostrou o início de uma tela esboçada, no cavalete e, em seguida, vários desenhos, em nanquim, no papel. Segundo ele, o desenho ainda supera a pintura e, ele tem completa razão no que diz. Suas raízes, voltadas para a cultura, estão no sangue que percorre por toda família. Por aqui, você confere o olhar de Flávio sobre um mundo que rejeita a guerra, a sua trajetória pelos EUA, Guiana Francesa, Europa, Jerusalém e Brasil, incluindo o próprio universo deste grande pintor, renomado em todos os lugares, onde sua arte alcança. Saberá, também, um pouco mais de sua personalidade, que, às vezes, tem um pouco de Macunaíma, um tanto de Picasso e Goya. E descubra no final desta entrevista, como será o retrato que você pode criar do homem e pintor, que carrega, em seu ínterim, uma pincelada de poetas, ditadura, música, paraíso, inferno, purgatório, enfim, carrega a vida e o desejo de vivê-la incessantemente.
Como foi sua infância e seu primeiro contato com as artes plásticas? Foi uma infância normal, meu pai era médico, veio de uma família de fotógrafos, meu avô paterno era fotógrafo e aquarelista. Meu pai desenhava muito bem. Ilustrou, durante muitos anos, jornais daqui, como o Correio das Artes e era muito bom em bico de pena. Então era muito natural que de seis irmãos, quatro desenhassem muito bem. Foi algo normal, de ter talento para desenho e o ambiente favoreceu.
Como foi sua infância e seu primeiro contato com as artes plásticas? Foi uma infância normal, meu pai era médico, veio de uma família de fotógrafos, meu avô paterno era fotógrafo e aquarelista. Meu pai desenhava muito bem. Ilustrou, durante muitos anos, jornais daqui, como o Correio das Artes e era muito bom em bico de pena. Então era muito natural que de seis irmãos, quatro desenhassem muito bem. Foi algo normal, de ter talento para desenho e o ambiente favoreceu.
Você freqüentou, aos 18 anos, o curso de Raul Córdula, e absorveu os ensinamentos do artista Hermano José. O que lhe despertou o interesse nesse artista e quais influências você trouxe para sua obra?
Na verdade, o curso foi em 63, eu tinha 13 anos e foi muito importante, porque o Raul Córdula e outros, ensinavam as técnicas e não interferiam no princípio estético. Então você poderia trabalhar no que quisesse, era realmente uma liberdade e também uma não indução, da parte deles, respeitando a criação dos outros. Isso foi importante, porque acho que a técnica, hoje em dia, falta muito aqui, em João Pessoa, que também sofre com a falta das escolas e cursos de arte. Foi uma época muito boa, porque tinha muitos pintores de fora, como Lazzarin, João Câmara, que já dava aulas de pintura e foi um período fértil, onde apareceu Miguel dos Santos, Régis Cavalcanti, Roberto Lúcio, muita gente boa. Breno Matos, Manoel Jairo Lisboa. E Hermano, como morava no Rio, favorecia muito com o conhecimento dele, de técnica também e opiniões críticas muito fortes. Hermano foi o primeiro a levar os artistas da Paraíba para expor no Rio. Fiz a exposição em 67/68, através de Hermano José.
Como se deu sua projeção como pintor, no âmbito nacional?
Foi o prêmio do Salão de Arte Global, em 72, com a viagem a Paris. Como a divulgação de arte naquela época, aqui em João Pessoa, ficava muito isolada entre João Pessoa e o estado da Paraíba, esse prêmio me deu notoriedade nacional, e com isso abriu espaço para expor em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e foi importante, porque acredito que foi como disparou o princípio do profissionalismo, na Cidade.
Você esteve uma temporada nos EUA e Caiena – Guiana Francesa. Quais experiências você leva consigo desta temporada no exterior, em termos de vida e cultura?
Na Universidade de Yale eu fiz um workshop. Tanto participei mostrando outros artistas daqui, da Paraíba, como levei muita história da cultura popular, desde o cordel e tinha acabado de lançar o livro de humor com Ziraldo, que se intitula “O pavão sem mistério”. Isso tudo deu uma abertura muito grande para ter o próprio conhecimento do que se chama uma cultura latina e uma cultura enraizada, na sua terra. Passei a ver, também, muito a criatividade popular e carro chefe dessa história é, ainda hoje, o gravador, Gilvan Samiko. Esse fabulário nordestino começou a aflorar muito e de lá dos EUA para cá, as oficinas favoreciam muito o campo técnico e a valorização do desenho era muito grande, coisa que é muito pouco valorizada aqui, porque acham que papel é coisa efêmera, além de aprimorar o desenho em si, com modelo. Eu não desenho por modelo, desenho de memória. Mas lá, as aulas com modelo faziam você entender a volumetria, a luz, os princípios básicos da arte e a figuração. E, em Caiena foi ver o mundo pela primeira vez, você ter a consciência do que é o mundo colonizado, porque ainda estava, não sei se continua, mas estava sob domínio francês. Era uma região muito pobre, com muitos índios, a região dos Igapós e tinha um domínio de uma cultura esmagadora, em cima dos nativos, porque ali ainda é uma região amazônica. Isso me favoreceu o campo político, de ter uma compreensão do colonizado e do colonizador, então isso nos leva a ter no campo de contracultura, o entendimento melhor, do que é um povo esmagado.
Suas obras conquistaram a Europa e Israel. Como se deu essa trajetória, até Jerusalém?
Em Jerusalém foi através de Sônia Weiner, irmã do Samuel Weiner, um grande jornalista brasileiro, quando ela viu uma exposição minha, no Rio de Janeiro e aqui, em João Pessoa, através de Fernando Pereira, Professor de Arte e Comunicação. Ele fez a ponte, porque já havia morado cinco anos, em Jerusalém. A exposição foi feita em Tel Aviv, através da Embaixada do Brasil, em Jerusalém, na Galeria Moriah, e também no Kibutz, em Ashkelon. Foi uma visão muito bonita, pois fiz uma pauta entre o sertão da gente com o mundo árabe. E me influenciou muito a questão da cor, porque a areia do deserto tem um tom dourado e comecei a observar muito a sombra, luz, claridade, escuridão, para ter uma concepção do que se chama um mundo ecumênico. Todas as regiões tinham uma confluência e não havia atrito. Hoje já tem muito. Já tinha acontecido a Guerra dos 100 dias, mas hoje existe uma animosidade muito grande, na época que eu fui não tinha.
Qual a sensação de já possuir um número expressivo de colecionadores?
É que você está fazendo um trabalho, que sai do seu ateliê, e tem o intuito de atingir outros elos, vamos dizer assim, outras casas, outros lugares e divulgar a nossa cultura, e isso é muito gratificante. Gratificação maior seria se essas obras, não só as minhas, mas de outros artistas, estivessem na formação de um museu, então haveria uma penetração na compreensão da cultura do povo. Eu vejo isso com o mural que eu fiz para a Estação Ciência, O reinado do sol, onde a penetração popular é muito grande, então se vê uma verdadeira aceitação e é uma boa aceitação, pela simpatia do povo e isso leva à necessidade imediata da criação de um museu.
Você não parou apenas na pintura. Quais outras técnicas você já desenvolveu? Eu gosto muito da litogravura, fiz um curso na Universidade do Novo México, de três meses, no Instituto Tamarindo e isso foi muito bom, porque você vê que a litogravura, como outras técnicas, é muito bem aceita lá fora, desde a serigrafia, à xilogravura. E esse período foi ótimo, porque o princípio da oficina é muito agradável, pois estamos sempre aprendendo.
Você não parou apenas na pintura. Quais outras técnicas você já desenvolveu? Eu gosto muito da litogravura, fiz um curso na Universidade do Novo México, de três meses, no Instituto Tamarindo e isso foi muito bom, porque você vê que a litogravura, como outras técnicas, é muito bem aceita lá fora, desde a serigrafia, à xilogravura. E esse período foi ótimo, porque o princípio da oficina é muito agradável, pois estamos sempre aprendendo.
Seus painéis e murais são bastante afamados. Um deles é “Reinado do Sol” e é extremamente impactante, devido ao tamanho e influência da criação da cidade de João Pessoa. Pode nos falar um pouco mais desta obra?
Quando foi dado o tema através do prefeito – como um cantador de viola dá o mote – que queria alguma coisa com alusão à cidade, eu pensei muito em Franz Post, gravador da época de Maurício de Nassau, com aquela luminosidade dourada, os rios, as paisagens e o clima cromático do quadro. Então, parte daí numa visão nova, do que seria a terra da gente, porque ali também era uma visão européia. Muitas coisas eram desenhadas aqui e pintadas lá. Então havia o confronto da luz dos trópicos, com a da Europa. Então fiz uma carnavalização, não no tema do carnaval, mas na temática de vários momentos de uma cultura sendo esboçada em um único painel. É uma alegoria, não é um quadro que possui uma história linear da colônia, mas segue o imaginário popular. Imaginamos ou imaginávamos chegando, aqui, portugueses, espanhóis, franceses, e uma confusão enorme. Na visão de um índio, ver chegar aqui um navio enorme, da época, é um absurdo. Hoje se chegar um disco voador, a gente nem se espanta tanto, porque o imaginário já estourou todas as possibilidades. Assiste-se no cinema Matrix, O senhor dos anéis e se vê uma fantasia. É exuberante! Quis mostrar isso, o impacto da colônia, com a galera, o galeão no meio, esmagando a cultura primitiva, do lado direito a formação da cidade com um pouco de alegoria, alguns escritores e o navio trazendo as bandeiras. Uma espécie de folclore, de uma nau mais próxima, também, a de Noé, do dilúvio, porque os europeus não levavam só matéria prima, mas também animais para a Europa, então lembrei de Noé. As formações tribais estão presentes na catequese. No quadro tive também a opção, porque como não havia muito espaço para ser visto, em distância, eu apelei para figuras menores e outras que chamei de ilhas, que as crianças gostam de olhar porque vão descobrindo os instantes de um, de outro e não é obrigado se ver o quadro na totalidade. Você o vê por partes e vai criando histórias dentro dele, sendo livre. Foi muito gratificante, porque saltei da fantasia para a realidade, e não da realidade para a fantasia.
Você fez uma série de pinturas, chamada “A Divina Comédia”, em parceria com Sérgio Lucena. Como se deu a idealização do trabalho, a parceria, além do desafio da interpretação da obra de Dante Alighieri?
Em 84 eu fiz uma obra em Bordeaux, sobre a Divina Comédia, baseada de longe em Dante, na questão do Inferno, Purgatório e Paraíso, mas não seguindo uma linha do próprio poema de Dante, porém levando a Divina Comédia Brasileira, como se adaptasse a essa comédia da época. O Brasil já tinha saído da ditadura e havia uma espécie de glamour, que estamos vivendo hoje, como se fosse a época de Hollywood dos anos 50, que é festa e mais festa, que não acho ruim e acredito que, quanto mais alegria melhor. Mas era uma sátira ao princípio de uma sociedade que estava saindo de um clima de Antônio Conselheiro, passando para um outro patamar que era a globalização. Isso me deu como suporte, a visão de Dante. Quando Sérgio apareceu, já era aluno meu, e tive uma idéia de fazer da Divina Comédia, a Pedra do Reino. Aí foi interessante, porque eu queria misturar as figuras burlescas dele, que na época eram muito caricaturais, além do desenho ser muito bom, até hoje, então deu uma fusão interessante no imaginário de dois pintores, formando um terceiro inexistente, pois na hora que juntou a minha arte com a dele, apareceu uma história que não estava prevista.
Como você definiria a inspiração?
A inspiração teria que ter um princípio de acúmulo de vida, porque não acredito na inspiração como a história da lâmpada de Aladin. Ela vem através de um mundo de trabalho, de um mundo de acervos da ótica, no caso da pintura e no caso da música, a audição. Daí o talento, a habilidade natural. Às vezes comparo muito a habilidade com qualquer outra profissão. O talento é muito feito através do suor e as idéias vão se agrupando como história em quadrinhos, ou como filmes na cabeça de determinados artistas, ou seja, o campo imaginário deles é levado mesmo por estas sementes constantes do seu trabalho. Então, há instantes em que você tem idéias brilhantes, aparecendo como se fosse inspiração vinda de fora. Mas, não sei afirmar se sem o acervo do trabalho, da leitura, do entendimento, se seria possível. Então a inspiração é um talento também. Eu diria um pé na terra e outro no céu.
Algum ritual quando vai pintar?
Não. Eu, inclusive, gostaria muito de me inspirar em alguns artistas muito disciplinados. Eu gosto muito de viver, de curtir a vida e no meio dessa vida, eu pinto, mas tem pintor ou artista que vive para pintar, para trabalhar e eu acho admirável. Aqui na sala tem uma rede que, vez em quando, é caçada, porque em certos momentos, prefiro ficar na rede, a pintar. É um pouco do Macunaíma (risos).
Os seus estudos de sociologia tiveram alguma importância, quando criou a série de desenhos “Anos de Chumbo”, criticando a ditadura militar? E porque ela foi elaborada em desenhos e não pinturas?
Tem sim. Quando comecei a estudar sociologia, já tinha saído do Movimento Estudantil, que era o movimento contra a ditadura e todo mundo estava envolvido. Aquilo, também, era uma carnavalização. Saíamos para passeata também para namorar. Ninguém era doido ao ponto de achar que aquilo não tivesse uma brincadeira no meio da tragédia (risos). A sociologia, acredito até hoje, que possibilitou uma visão melhor da política, a prova disso é que faço charges políticas, até hoje. Eu fiz uma charge, contra os sistemas ditatoriais: “O pavão sem mistério” e tem um capítulo da Tesoura, que era sobre a censura. Não precisa ser um sociólogo, evidentemente, para ter uma visão maior. Fiz em desenho, porque acho o domínio do preto e branco, ainda muito superior. Você observa isso, de forma clara, na obra “Guernica” de Picasso. E ele disse isso de forma muito veemente: o quadro foi feito em preto e branco para mostrar a ausência de cores dentro da tragédia. É evidente que você mostra, também, através das cores o princípio que se chama de tragédia humana. Goya é o exemplo maior na obra “Sabá das Bruxas” e também nas gravuras; nas gravuras em metal, que tem uma força muito grande, no que se chama regime de força.
Críticos como, Jacob Klintowitz, elogiam a sua evolução na arte. A que você dedica esta evolução?
O desenhista, o pintor tem sempre a frente dele desafios, como se o mundo fosse inesgotável. Então o que se chama evolução na minha concepção é você fazer um trabalho, onde sua mente queira atingir. No momento em que você atinge, tem o sentimento de que evoluiu tecnicamente. Mas, às vezes, até isso leva dúvida, entretanto se você tem um parâmetro crítico bom, sabe que não está dentro de um princípio estagnado. Por isso que é preciso, também, a crítica, porque lhe auxilia no processo. Você, com o olho crítico, vê se está evoluindo, ou não. Pois, em certos momentos, também existem as quedas. Alguns períodos são confusos na própria vida, que você não sente esse princípio que se chama avanço, e fica parado. Isso é como qualquer outra profissão.
Qual a importância das gerações dos anos 60, 70 e 80 em suas obras?
A importância vem da formação de uma latinidade, desse nordeste, através de João Câmara, Vicente do Rego Monteiro, a Escola Pernambucana de Artes, Samico e aqui, na Paraíba, Raul, Ivan Freitas e o entendimento dessa geração de grandes gravadores, como José Altino, Alexandre Filho, que é da minha geração. A concepção dos anos 60, junto à música, o teatro muito forte de Guarnieri, Paulo Pontes, com Gota D’água, Chico Buarque, Caetano com o Movimento Tropicalista. Não admito o artista viver isolado, pensando que a evolução dele foi só daquele pequeno momento, em que trabalha. O artista plástico tem que possuir uma compreensão do mundo. Então, a música foi bastante importante nesse entendimento da geração dos anos 60. A música de protesto, onde as raízes saíram de um samba muito bom, como Cartola, Pixinguinha, passando por Vinícius, Tom Jobim, e a geração brilhante de Chico Buarque. E na pintura, a contribuição de Portinari, Di Cavalcanti, entre outros.
Ainda com muita fama e prestígio, as pessoas elogiam a sua simplicidade e lhe consideram uma personalidade acessível. De onde vêm essas qualidades?
Eu acho que tudo é uma forma de entendimento da vida, porque se não tiver essa humanidade naturalmente, acho que a pessoa está fora das conotações do que se chama inteligência, prazer, o fazer, e a amizade. Tudo isso é uma coisa natural. Você ter esse entendimento do outro, vai muito da formação tanto familiar, quanto religiosa. Não é obrigado tê-la para se ter esse entendimento. Eu acho que a humanidade já traz isso intrinsecamente, porque é preciso o exercício de ser humano. É muito triste ainda vermos guerras e domínio, atualmente O mundo está mudando muito, pode ver um sintoma maior, que foi a eleição americana com Barack Obama, em um país intolerante com raça. Tem que se ter uma amizade. O mundo não tolera mais guerra.
A arte é mercadoria?
Lamentavelmente o nome mercadoria não se aplica à arte, porque é um nome que me parece industrial, como a mercadoria tirada em série. É lamentável que, às vezes, as pessoas pensem que arte fosse só mercadoria, mas dentro do mercado, como temos o mercado de arte, ela se torna mercadoria. Mas se torna mercadoria, onde a crítica deveria exatamente executar essa estratificarão do não repetitivo. Então, a arte tem um mercado e se torna um valor. Ela se torna um bem de consumo, às vezes, e não tem estética. Então pode ser classificada como mercadoria, mas não no sentido do múltiplo, do industrial e do vulgar. Lamentavelmente, porque a palavra mercadoria não é bonita. Mas, a arte é mercadoria, e no instante em que o teto de uma igreja está pintado, ela não é mercadoria, mas sim o sagrado, porém na hora que a pintura sai do teto e deixa de ser o sagrado, passa a ser um bem de consumo.
Se pudesse recomeçar tudo, desde criança, você mudaria algo, ou faria tudo de novo?
Temos tanta falha na vida. O igual, em algumas horas, é antidialético. Você não pensa no igual. E há uma coisa muito bonita na vida, onde se acredita que vai viver para sempre. Então, tem sempre tempo para você retornar ao próprio caminho, ou aos caminhos. Volto muito para minha infância e me sinto muito retroativo, mas me vejo sempre desenhando, pintando e o prazer de estar fazendo arte. Acredito que se pudesse recomeçar, faria a mesma coisa.
Flávio Tavares por Flávio Tavares?
A minha vida é entre o olho e a tela. Eu me vejo muito espelhado no momento em que estou pintando. E como lá em casa todos têm o retrato de família muito parecidos com meu pai, eu acho que ele, como médico, sanitarista e dermatologista, espelha melhor uma índole, vamos dizer, romântica, do que eu próprio teria capacidade de me espelhar. Não tenho um retrato muito formado. Às vezes é até interessante ver o seu retrato feito por outra pessoa. Pois para a própria pessoa, ela é turva. Quanto mais distante, a vista foca melhor. Eu, em certas horas, tenho um retrato mais distante, do passado, do que do presente. O presente é uma confusão grande, é muito difícil.
Ivna Alba
Ivna Alba
Jornalista
Entrevista do mês de novembro de 2008.
Um comentário:
uma pena nao ter saído completa na revista.
muito boa a entrevista, to morrendo de orgulho!
beijo!
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